Se fosse um país, o número de terceirizados poderia ser equiparado a uma Bélgica (pouco mais de 12 milhões de habitantes) ou mesmo uma Suíça (menos de 10 milhões). Hoje, segundo estimativas do Dieese, existem mais de 13 milhões de pessoas trabalhando nesse regime. Com a aprovação do projeto de lei que prevê a terceirização das atividades das empresas, o número de colaboradores nessas condições deve subir 30%, segundo o Sindicato das Empresas de Prestação de Serviços a Terceiros, Colocação e Administração de Mão-de-Obra e de Trabalho Temporário no Estado de São Paulo (Sindisprestem).
Esses 13 milhões de terceirizados se referem fundamentalmente àquelas pessoas que hoje prestam a chamada atividade-meio, ou seja, sem ligação da função principal do negócio de uma determinada empresas. Estão nessa categoria seguranças, faxineiros, entre outras pessoas.
Alguns sindicatos falam em precarização e até demissões. Porém, os sindicatos patronais tem uma opinião bem diferente. A Fiesp (Federação das Indústrias do Estado de São Paulo), por exemplo, prevê a abertura de 3 milhões de frentes de trabalho apenas em um primeiro momento. Seria um alívio para os 12 milhões de desempregados existentes no país hoje.
O próprio governo acredita no aumento da oferta de empregos. No início desta semana, o ministro da Fazenda, Henrique Meirelles, afirmou que uma possível aprovação do projeto que flexibiliza a terceirização de mão de obra seria positiva para o país na expansão de empregos. Para ele, as empresas têm resistido a contratar por causa da rigidez das leis trabalhistas.
“Acredito que ajuda muito porque facilita a contratação da mão de obra temporária. Facilita a expansão dos empregos. Hoje muitas vezes a empresa resiste à hipótese de aumentar o emprego justamente por alguns aspectos de rigidez das leis trabalhistas. É importante para fazer com que funções temporárias ou em caráter não permanentes sejam viabilizadas.
Segundo o economista Gesner Oliveira, que já presidiu o Conselho Administrativo de Defesa Econômica (CADE) e a Companhia de Saneamento Básico do Estado de São Paulo (SABESP), a prestação de serviço especializado, ou terceirização, gera oportunidades de empregos no País, possibilita o aumento da competitividade global da empresa brasileira e estimula o aumento do ritmo de inovações.
Ele falou sobre o assunto em recente palestra, no Tribunal Superior do Trabalho, denominada “A Terceirização como Fenômeno Socioeconômico nos Países Desenvolvidos”. Gesner avaliou que a terceirização é uma tendência irreversível na economia mundial e está diretamente associada à organização produtiva. “Inibir a terceirização vai contra a evolução da organização do processo produtivo”, afirmou.
No passado, segundo Oliveira, as empresas se organizavam de forma verticalizada, em um ambiente de elevadas barreiras tarifárias. Hoje, as empresas são integradas em redes de produção, baseadas na contratação de serviços de outros empreendedores. Isso permite que elas se mantenham focadas em suas competências e mais bem preparadas para enfrentar um quadro de forte competição internacional.
Ainda segundo ele, quanto mais desenvolvido é um país, avaliou o economista, maior é o setor de serviços, segmento que mais cresce e mais se diversifica na economia mundial. A terceirização, associada a esse crescimento, pode ser verificada em todos os continentes, especialmente nas economias mais geram empregos.
“Nos EUA, por exemplo, a representação do setor de serviços na economia formal passou de 50% para 80%, nos últimos 50 anos. Boa parte dessa evolução se deu pela terceirização. Na França, no mesmo período, o setor de serviços cresceu de 50% para 75%”, afirmou o especialista no encontro.
Com informações de O Globo