O impacto da pandemia na arquitetura foi uma via de mão dupla, tanto na adaptação do espaço residencial para que o home office fosse possível, quanto na transformação do ambiente comercial e dos escritórios que começaram a ficar ociosos pela cidade.
Isso porque esse fenômeno sanitário global implementou estilos de vida que impactaram nas mais diversas áreas. Tornando casas algo muito além de lares, a arquitetura entrou em evidência e é hora de tornar o espaço de descanso, um local de produtividade, bem como de repensar as funcionalidades do local de trabalho.
A arquitetura em transformação constante
Grande parte das companhias e dos profissionais tiveram suas rotinas e modus operandi alterados no último um ano e meio. E com a arquitetura não foi diferente, uma vez que é inerente às questões socioculturais.
O arquiteto Leandro Rhiaff comenta que a área sempre teve de ser adaptar devido aos novos tempos. Exemplo disso é que no início do século XX, os apartamentos mediam mais de 150m². No século XXI, são, em média, de 50m² e com ambientes otimizados para obedecer a necessidade dos usuários: um local para dormir.
E com os indivíduos ficando mais tempo em casa em termos de lazer e trabalho por conta da covid-19, a escolha do ambiente e a forma de organização são essenciais para uma boa dinâmica. “É primordial que o projeto arquitetônico considere a escolha das cores, da iluminação e do mobiliário de apoio. É preciso atender a todas as demandas e criar elementos de atração pela casa. A pandemia pede que tenhamos residências mais confortáveis novamente. É o futuro da arquitetura”, explica o especialista.
A casa como ponto de trabalho
Em tempos em que o fator psicológico foi colocado em evidência, ter um ambiente de trabalho confortável em casa pode ser muito motivacional. “As pessoas se sentem produtivas e importantes quando têm uma rotina de trabalho que demanda atenção. O que a maioria busca em um projeto é um espaço pensado especialmente para elas, que as façam sentir bem no dia a dia, com a clara definição do espaço laboral”, diz Leandro Rhiaff.
Desse modo, as residências vão exigir maior conforto: para quem passou a trabalhar, morar, descansar, se divertir, se alimentar e praticar exercícios em casa durante a pandemia, tornou-se muito evidente a necessidade de espaços mais amplos, bonitos, bem planejados, funcionais, confortáveis, fáceis de limpar, tecnologicamente estruturados e iluminados. Mas nesse ponto, algumas dúvidas surgem e decisões devem ser tomadas. Afinal, é melhor otimizar tudo em um mesmo espaço ou ter um cantinho só para o trabalho?
De acordo com o especialista, a maior dificuldade consiste justamente em encontrar um ambiente silencioso e reservado, mas garante que separar um espaço só para essa função é fundamental, e que o melhor ambiente é longe da sala de estar ou ambiente social. “Suítes costumam atender bem a esse propósito. A partir daí é abusar da iluminação certa e das cores perfeitas”, descreve Leandro Rhiaff.
“É essencial que haja conforto ergonômico em cadeiras, mesas e outros elementos. Os equipamentos tecnológicos que darão suporte ao trabalho em home office precisam ser calculados. Tomadas nos lugares certos, por exemplo. E beleza para que o dia a dia seja estimulante, agradável e produtivo. Sem essas informações, um home office se resumiria a uma mesa e um computador”, completa.
Pensando em tudo isso, o arquiteto dá algumas dicas de como desenvolver um ambiente de trabalho em casa agradável:
● Evite cores quentes para paredes (vermelho ou laranja); use-as somente em objetos de decoração e livros;
● Iluminação fria difusa e quente direta no teto e frontal superior;
● Cadeiras e mesas ergonomicamente adequadas ao usuário;
● O mesmo ambiente não deve ter mais que uma funcionalidade;
● Dê prioridade para cores suaves e neutras;
● Invista em boa ventilação, iluminação natural, conforto térmico, conforto acústico, privacidade, aparato tecnológico e conforto para as pausas, com mobiliário belo e de boa qualidade.
De quebra, esses elementos serão úteis para construir um bom cenário para as reuniões online, tão frequentes desde março de 2020.
Tendências para a estrutura dos estabelecimentos comerciais
O mercado acompanhou o fluxo e evoluiu para oferecer o que há de mais confortável e prático para quem passa mais do que apenas algumas horas em casa. Para Leandro Rhiaff, qualidade e conforto serão tendências em um cenário pós-covid-19 que deverão se manter.
Dessa forma, os prédios comerciais tendem a se tornar um ambiente mais descontraído e mais colorido, que dará vazão às diferenças de perfil comportamental das pessoas e aos talentos. As expectativas se voltam ao planejamento de lugares mais lúdicos e planejados, com cores que nunca antes se veriam em escritórios.
Isso tudo estimula, no caso das empresas que irão adotar o trabalho 100% presencial, a pausa criativa e o lazer laboral. Já aquelas que terão o modelo híbrido ou home office, a sugestão do arquiteto é reduzir ou compartilhar espaços, uma vez que uma estrutura engessada, com baias e divisórias, tende a sumir.
Não foi apenas quem deixou o escritório para trás que sentiu a necessidade de repaginar o ambiente de trabalho. Novos hábitos adquiridos ao longo da pandemia modificaram a forma de frequentar outros ambientes. “A preocupação com a higiene das mãos e a diminuição do contato físico proporcionaram uma transformação profunda na forma de projetar a arquitetura comercial e corporativa”, afirma o arquiteto.
A exemplo disso, os restaurantes sentirão um grande impacto, pois tenderão a ser mais intimistas e isso tem tudo a ver com o projeto arquitetônico. Não se trata apenas do espaçamento entre as mesas, mas sobre o aproveitamento do espaço e dos fluxos.
Dessa forma, o caminho inverso também acontece e novos padrões arquitetônicos dirigirão mudanças comportamentais, como a rotina da cozinha, o minimalismo e a luz, ocupando os espaços, e até mesmo o uso de itens biodegradáveis e sustentáveis. “Os restaurantes passarão a ser mais reservados. E tudo isso tem a ver com arquitetura e design”, finaliza Leandro Rhiaff.
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