Smartphones são o controle remoto das nossas vidas aos quais estamos irremediavelmente ligados. Mas será que essa é a maneira pela qual queremos interagir com o mundo, vidrados na tela pequena e andando pelas ruas como zumbis? É chegada a hora dos designers considerarem novas formas de interação usando a Internet de tudo à nossa volta.
A IoT chegou com crescente foco na comunicação M2M, mas a comunicação H2H é igualmente importante para o design da interface do usuário (UI). Pense na Interface de usuário humana (HUI), onde movimentos, voz, pensamentos motivam sistemas a responder a nós em nosso ambiente, Dispositivos inteligentes têm um papel aqui, mas interfaces invisíveis e sem tela são críticas para criar experiências melhores.
A apresentação solo de Greg Carley, Diretor de Estratégia de Produto da Chaotic Moon, com o tema “Human UI: the next era of interaction design – Live beyond the screen” (Interface de Usuário Humana: a nova era do design interativo – viva além da tela, em tradução livre), mostrou que as expectativas humanas estão mudando. O explícito tornou-se implícito. Sabemos muito sobre as pessoas – o explícito – e então “automatizamos” as informações e ações para criar padrões, o que cria processos implícitos.
Para Carley, com base em estudos da Accenture e de sua própria empresa, Chaatic Moon, estamos vivenciando a digitalização e a mensuração de tudo (quanto tempo levamos para comer, mastigar, cheirar, quantas vezes mastigamos e muitas outras atitudes). E a digitalização de tudo – pessoas, lugares e coisas – utilizada de modo apropriado criará experiências mágicas.
Um exemplo: pequenas câmeras instaladas nos carros dos colaboradores do Uber nos EUA mapeiam a experiência dos usuários. Gestos, expressões, se leem, se usam celular, se conversam com o motorista, como falam, sobre o que falam. Pode ser assustador pensar nisso, mas o objetivo é aprimorar a experiência no uso do serviço.
Nesse sentido, o corpo humano torna-se então o objeto de interface. A leitura da linguagem corporal torna-se um caminho natural para extrair informação e também para recebê-la.
O corpo humano tem banda larga?
A partir do momento em que a observação das reações humanas gera informação, é possível entender como essa informação é transmitida, transformado em dados? É possível dimensionar a “largura de banda” da espécie humana? Qual é o limite de nosso corpo para acumular e transmitir dados? Carley mostrou o que seria uma casa realmente inteligente: aquela onde os dispositivos possam interagir com as pessoas, interpretando gestos e tomando “decisões” a partir do que nossos gestos e expectativas sugiram.
É isso o que o executivo chamou de Human User Interface ou Interface de Usuário Humano – a combinação da linguagem corporal + sentidos humanos para naturalmente se comunicar com as máquinas que estão à nossa volta.
As necessidades de pensar a interface tiveram origem a partir da ascensão dos laptops e smartphones. Os dispositivos digitais conectados à internet criaram a revolução da comunicação remota. Um mundo onde a linguagem que flui da tela é importante.
Gestos, intento e velocidade facial
A linguagem corporal é baseada em 3 dimensões: os gestos, o intento e a velocidade facial.
Os gestos são a tela onde se constitui a linguagem corporal. Temos valores culturais, e pelos gestos é possível ler a linguagem corporal de modo consciente ou inconsciente.
A indústria de games já trabalha de modo intenso com a leitura da linguagem corporal. Designers têm a chance de criar padrões para os gestos, Assim, precisamos ser sensíveis aos significados culturais específicos e conflitos de gestos.
Intento – Usamos um grande número de gestos e sinais em nossas interações, cada qual com significados diferentes e intentos diferentes. Pensar na User Interface (UI) do intento é muito importante para compreender nossas expectativas. Os carros autônomos vão precisar expressar intento para que possam ser compreendidos em suas ações.
Velocidade facial – esse é o ponto mais sensível da linguagem corporal e, consequentemente, da UI. Verificar nossa reação à espera pode indicar a existência de pontos de atrito. Porque a vida digital significa termos menor tolerância à espera. Tudo deverá responder instantaneamente. Nossa tolerância a atrasos ou lentidão será drasticamente reduzida.
Estes conceitos derivados da linguagem corporal vão demandar a adaptação de dispositivos que emulem os sentidos humanos, proporcionando a criação de uma Interface Humana. Assim:
– Câmeras e lentes de contato emulam olhos
– Microfones e sonares emulam a voz/som
– Autofalantes, fones de ouvido e aparelhos de ouvido emulam ouvidos
– Percepção tátil, texturas, prisões, temperatura, movimentos emulam pele/toque
– Sensores e dispositivos digitais emulam o nariz/olfato
É certo que os conceitos de HUI – Human Interface Interface condicionem o desenvolvimento dos dispositivos de Realidade Aumentada. Os limites da percepção humana serão descolados das telas e passarão a frequentar outras dimensões em busca uma impressão sensorial mais rica. Os tempos de ficarmos andando nas ruas olhando para nossos celulares como zumbis podem estar ficando para trás.
Fotos: Jacques Meir
*Jacques Meir é Diretor de Conhecimento e Plataformas de Conteúdo do Grupo Padrão.