Renato Mendes começou a sua carreira como jornalista, passou por grandes companhias, como a Netshoes, e desde a criação da aceleradora Organica, em 2016, vem militando e apoiando de maneira ainda mais fervorosa pelas startups e o pensamento disruptivo delas, além de defender os millennials.
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Não por acaso, fica ao lado da geração Y quando esta é chamados de arrogantes e impacientes. “Ser millennial é muito menos do que ter nascido em determinado ano”, diz ele. “Podemos considerar um estado de espírito e o dom de mudar comportamentos.”
Na entrevista a seguir, Mendes, que será uma das atrações do Conarec 2017, reflete sobre o papel dos millennials na sociedade e nas corporações e como a geração está conseguindo mudar o pensamento de vários agentes do mercado.
O que diferencia os millennials de outras gerações?
Essa geração está muito mais em busca de propósito do que a anterior. O que isso significa na prática? Eu vinha de uma geração em que tinha uma oferta de produtos e serviços muito mais limitada, que estava restrita ao que acontecia no bairro e cidade. Também fomos criados com a ideia de que precisávamos ganhar dinheiro. Isso é algo que mudou muito nos millennials.
Como isso reflete no consumo delas?
A expectativa de comprar algo é diferente. A geração X, por exemplo, busca a posse do produto, ela procura o “ter”. A millennial quer o acesso aos produtos, que vêm por meio das empresas que realmente conseguem a tal disrupção digital, como Uber e Airbnb. No fim das contas, parte da geração Y quer simplesmente chegar do ponto A ao B, mas sem se preocupar com o status. Pode ser de Uber, de Bla Bla Car ou até de bicicleta.
E essa geração realmente está conseguindo transformar o mundo corporativo?
Eles estão conseguindo fazer com que as empresas repensem o seu papel na sociedade. As gerações anteriores nem se preocupavam com responsabilidade corporativa – era simplesmente aceitar o que as empresas falavam e pronto. Antigamente, quando alguém ia comprar uma calça jeans, por exemplo, pensava em pagar o menor preço possível pelo maior status possível. Hoje, as pessoas também estão preocupadas em se a produção da peça de roupa teve mão de obra escrava ou não.
Qual foi a saída para as marcas?
Quando nós falamos de propósito, existe essa quebra de paradigma. As marcas precisaram voltar aos seus propósitos e aos motivos delas existirem. Elas viram que é necessário cativar as pessoas. Nenhuma geração tinha conseguido fazer esse movimento com as empresas.
Muitos millennials se enxergavam como parte de uma geração especial. Como a crise econômica vem impactando eles?
O grande impacto está ocorrendo quando eles vão para o mercado de trabalho. Aquele jovem começa a entender que o mundo não gira ao redor dele. Ao mesmo tempo, a crise não vem impactando o ideal deles. Muitos deles estão buscando empreender. Como professor universitário, eu nunca vi tantos jovens querendo empreender.
Mas as universidades no Brasil ainda são dominadas pelas camadas mais ricas da sociedade. O que muda na geração millennial das classes mais baixas?
É de se surpreender a capacidade de inovar das classes mais baixas. Até pela necessidade que eles têm, e passa se tornar um empreendedorismo de sobrevivência. Diferentemente daquele empreendedorismo com cara de Vale do Silício, que é baseado em escala de alto impacto e inovação, essas pessoas precisam buscar soluções para conseguir se manter.
Parte das gerações mais antigas ainda enxerga os millennials como impacientes e até egocêntricos. Por que ainda há esse conflito?
Não gosto desses rótulos. Ser millennial é muito menos do que ter nascido em determinado ano. Podemos considerar um estado de espírito e o dom de mudar comportamentos. E também há outros aspectos: sempre uma geração é menosprezada pela anterior. Eu cresci ouvindo que a nossa geração era pior, que não tínhamos lutado a ditadura e não conhecíamos dificuldades. Toda vez que você tem uma quebra de geração, você tem uma defesa nostálgica.