Toda história fica mais fácil de ser entendida quando são usados elementos que aproximam ou despertam o interesse dos interlocutores. E, na gestão de pessoas, esse recurso também pode ser utilizado. Ou seja, usar uma narrativa atraente, persuasiva e elaborada faz parte do storytelling para gestão, como uma ferramenta para engajamento dos colaboradores.
O storytelling – a contação de histórias – neste contexto, segundo o professor da FGV EBAPE, José Mauro Gonçalves Nunes, é uma forma de comunicação inicialmente criada no âmbito da Gestão de Marcas, que procura conectar consumidores a essas a partir da construção de histórias relacionadas à criação da marca e de sua identidade.
Essas histórias devem despertar reações emocionais nos consumidores, a fim de gerar compra, engajamento e lealdade para com a marca e a empresa que lhe é detentora.
“Nesse sentido, para a gestão de pessoas, o storytelling é uma poderosa ferramenta no desenvolvimento de vínculos motivacionais e emocionais para com a organização, uma vez que possibilita que os colaboradores possam se identificar com os valores e atitudes da empresa, gerando motivação, engajamento, propósito e senso de pertencimento com as equipes”, explica o professor.
Usando o storytelling para gestão
Contar histórias faz parte da natureza humana. Antes que a escrita existisse era através da narrativa de um acontecimento que os humanos compartilhavam experiências e aprendiam uns com os outros. Milênios mais tarde essa forma de comunicação ainda encanta, atrai a atenção, podendo ser educativa, divertida e agregadora.
O storytelling pode ser utilizado em treinamentos, capacitações e desenvolvimento de pessoas, a fim de gerar identificação dos colaboradores com a missão, valores e propósito da organização.
Além disso, a técnica é indicada também em processos de team building, onde há a necessidade de se construir equipes de alto desempenho, que tenham alto foco na tarefa e elevado nível de resiliência frente aos desafios que a organização enfrenta.
Mas, para colocar em prática, é preciso estruturar as capacitações ao redor de uma história poderosa que gere propósito e vínculos emocionais dos colaboradores para com a empresa.
Para o professor da FGV, é preciso também mostrar como essa história e seus valores se manifestam em todas as atividades da empresa nos mais diferentes setores, seja no contato com o cliente externo, seja nos processos ou nos relacionamentos de sinergia e colaboração envolvendo os clientes internos.
Além disso, é preciso criar atividades práticas nos treinamentos que ilustrem a aplicação do storytelling nas atividades de trabalho. “Além de criar motivação, engajamento e senso de propósito nos colaboradores, o storytelling é uma poderosa ferramenta a ser utilizada nos processos de team building, além de proporcionar a visão de dono por parte dos colaboradores e das equipes de trabalho”, pontua José Mauro Nunes.
Mas, como tirar as ideias do papel?
A informação mais relevante é conhecer o público-alvo, ou, no caso da gestão de pessoas, os colaboradores da empresa. Em seguida, é preciso saber qual a necessidade que será preciso desenvolver e qual a melhor maneira para apresentar essa ideia em forma de storytelling.
Para isso, será necessário criar modelos de personas, estudando os hábitos dos colaboradores e conversando com as pessoas para levantar esses perfis.
Se a ideia é criar um storytelling, por exemplo, para engajar pessoas a se inscreverem em um treinamento sobre segurança no trabalho, converse com alguém que já participou e colheu resultados.
Assim, é possível criar um roteiro com a participação desse funcionário, mostrando que ele é também um colaborador, como os demais, e que recebeu um impacto positivo no seu dia a dia ao participar desse treinamento. A partir dessa premissa, é possível fazer um storytelling, contando histórias reais, e engajar as pessoas a participarem mais dos treinamentos (e, de quebra, assimilarem melhor o conteúdo passado).
O caso da história da Nike
Compartilhar histórias de sucesso ou até mesmo de erros, em alguns casos, ajuda a moldar o relacionamento de uma empresa com seus colaboradores.
Na Nike, por exemplo, os executivos seniores são designados como contadores de histórias corporativas. Eles contam a história de Phil Knight, cofundador da Nike, vendendo tênis de corrida no porta-malas de seu carro, além da história de como o outro cofundador da marca, Bill Bowerman, despejou borracha no aparelho de waffle de sua esposa para criar a sola de um tênis de corrida melhor.
As equipes da marca entenderam há muito tempo que aproveitar a emoção a serviço da narrativa é uma estratégia muito mais eficaz para a construção da marca do que enumerar recursos e benefícios.
“Por que as pessoas se casam ou fazem alguma coisa?” Phil Knight disse para a Harvard Business Review em 1992. “Por causa de laços emocionais. É isso que constrói relacionamentos de longo prazo com o consumidor, e é disso que tratam nossas campanhas. Nossa publicidade tenta conectar os consumidores à marca Nike por meio das emoções dos esportes e do condicionamento físico. Mostramos competição, determinação, realização, diversão e até mesmo as recompensas espirituais de participar dessas atividades”, explicou o cofundador da empresa de material esportivo à época.
E, na Nike, o recurso de storytelling possibilitou o sucesso da construção de sua marca, que aconteceu através da capacidade de promover a conexão por meio de narrativas emocionantes, seja com seus consumidores ou colaboradores.
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