O setor da saúde no Brasil enfrenta um cenário preocupante. Planos de saúde cada vez mais caros e experiências ruins frustram os clientes. Mas, a partir da tecnologia esse cenário pode mudar. Com o uso de dados, tecnologias inteligentes e conexão, é possível tornar a saúde conectada, mais barata, acessível e eficiente. A startup Weknow Healthtech, segunda colocada geral no Ranking 100 Open Startups está ajudando hospitais e operadoras brasileiras nesse sentido.
A Weknow é uma spin-off de uma empresa de saúde, sediada em Santa Catarina, que trabalha na área há mais de 20 anos. “Eu sou um dos fundadores, estava lá nos primórdios, e a gente entendeu que havia uma necessidade de usar os dados da saúde em benefícios da gestão. Para fazer uma gestão de alta performance, guiada por dados, de fato, as ferramentas que tínhamos na época não eram o bastante. Os sistemas que existiam naquela época, por volta de 2013-2014, não eram suficientes para os hospitais fazerem uma boa gestão”, relembra Pedro Burguesan, co-fundador e diretor de inovação da Weknow Healthtech, membro conselheiro da GLG e Mentor de Inovação.
O software criado pela startup está no mercado desde 2015, com constante evolução, mas sempre com o mesmo propósito de tornar o setor da saúde mais inteligente através dos dados. A ideia do produto é ser instalado em instituições como hospitais, clínicas e operadoras, e integrá-lo a outros programas, como Excel e sistemas de gestão, como MV e Tasy, deixando, verdadeiramente, a saúde conectada.
“Hoje, o que mais importa é as pessoas entenderem que os dados são o futuro. Se a gente não tiver uma visão clara dos dados que a gente tem nas mãos e saber utilizar eles ao nosso favor, a gente não vai conseguir passar pela tempestade que está por vir”, revela o co-fundador da Weknow. Essa tempestade se refere à crise que as operadoras de saúde vivem por se tornarem cada vez mais caras e com formatos insustentáveis. De acordo com Pedro Burguesan não tem milagre ou mágica. “Só existe uma forma de a gente fazer uma mudança: olhando para esses dados, entendendo claramente como minha operação funciona, se profissionalizando, buscando mais maturidade de gestão. É através dos dados e dessa maturidade que a gente vai conseguir achar as soluções”, revela.
Pandemia acelerou a saúde conectada
Durante o período de quarentena, de reclusão que a Pandemia da Covid-19 impôs, a tecnologia precisou dar um salto em todos os setores, sendo um divisor de águas também na área da saúde. Antes, para o Diretor de Inovação, a tecnologia na saúde seguia um paradoxo: causava desconfiança e também era entendida como necessidade pelos gestores.
“Eu era obrigado a colocar todos os dados em um sistema – porque eu tenho muito mais eficiência, controle e segurança –, ao mesmo tempo era um absurdo usar uma ferramenta de telemedicina. Poucas pessoas sabem, mas a telemedicina está disponível há 15 anos”, comenta Pedro Burguesan.
Nesse sentido, a pandemia quebrou o paradigma. Conforme dados da pesquisa TIC Saúde 2022, divulgados pelo Centro de Regional de Estudos para o Desenvolvimento da Sociedade da Informação (Cetic), a teleconsulta ou consulta médica não presencial foi utilizada por 33% dos médicos e 26% dos enfermeiros em todo o país no atendimento a pacientes em 2022.
“Estamos caminhando, ainda lentamente na minha opinião, mas aderindo a novas possibilidades na saúde, como utilização de dados, IA, Open Health, que eu acredito que será um tópico ainda mais falado daqui pra frente”, relata o co-fundador da Weknow Healthtech
Tecnologia e gestão
É consensual que a tecnologia transforma uma cadeia de processos, desde o desenvolvimento da administração até a qualidade e redução do valor de um serviço ou produto para o consumidor. “Quanto melhor é feita a gestão de uma empresa, obviamente você vai ter mais eficiência. Isso reflete na parte financeira, o que permite maior qualidade, ao mesmo tempo que você coloca esse preço mais baixo”, observa Pedro Burguesan.
E essa ideia é ainda mais fortalecida no ramo da saúde, já que muitas vezes um médico é escalado para ser gestor de um hospital ou outra instituição, sem saber de fato o que é gestão. Como fazer com que pessoas que não são gestoras se tornem grandes gestores, se profissionalizem dessa forma?
“É uma questão de cultura, eu acho que uma cultura de gestão de alta performance deve ter por base gestores de alta performance. A tecnologia é um caminho, mas por si só não resolve. Aí entra o diferencial da empresa de tecnologia. Uma empresa madura precisa ajudar os gestores a se tornarem melhores gestores”, ressalta o co-fundador da startup.
A delicadeza da proteção dos dados na saúde
Os dados das pessoas físicas são vistos como o petróleo da contemporaneidade e sua governança, portanto, é uma das discussões em todos os setores do mundo. No Brasil, a Lei Geral de Proteção de Dados (LGPD) considera dados sobre saúde como “dado pessoal sensível”. E por isso cada vez mais as empresas de tecnologia criam ferramentas e travas para conservar essas informações.
“Temos que usar os dados a nosso favor, mas sempre com muita parcimônia e controle. Temos que saber quais áreas podem acessar, de que forma vai acontecer esse acesso. A gente sempre fala que ao mesmo tempo que queremos dar mais disponibilidade de dados, a gente não pode fazer isso de forma descontrolada. Esse também é um dos pontos que atuamos, na conscientização de que é possível fazer sem ser descontrolada”, pondera o Diretor de Inovação.