No espaço da Levi’s, recebemos uma edição de Rolling Stone. É a mais recente. Logo de cara estava a informação: edição 1283, aniversário de 50 anos. A publicação acompanhou o rock, as manifestações de liberdade, os altos e baixos da história do jornalismo. É uma das maiores – se não for a maior – publicações do mundo. E a Levi’s reuniu, durante o SXSW, quatro grandes nomes da história da música.
Logo no início da conversa, questionado sobre uma grande história vivida durante a vida de Rolling Stone, David Fricke, sênior editor da revista, contou uma das mais emocionantes experiência do SXSW – principalmente para quem é apaixonado pelas lendas do rock ‘n’ roll.
“Todos os dias que eu penso na jornada que vivi, olho para trás e penso “eita, isso aconteceu comigo’”, conta. “Com 16 anos, comprei [o álbum dos Rolling Stones] Paint in Black. Eles foram muito importantes pra mim durante toda a vida. E depois eu entrevistei Keith Richards, e o fato de ele saber meu nome e passar cinco horas comigo foi incrível. Eu sei que estava trabalhando, mas às vezes não acreditava que tinha chegado até ali. Eu trabalhei pesado para fazer isso acontecer”.
A entrevista foi feita em duas sessões diferentes. Ou seja, David conversou com Keith em dias diferentes, ocasiões diferentes, cidades diferentes. “No segundo dia, o funcionário do hotel comentou que não era para contar com ninguém, mas Keith havia limpado o quarto para mim”, lembra, empolgado. E comemora: “Keith limpou o quarto para mim!”. A plateia ri, mas, a conclusão de David é profunda: “você acaba aprendendo um pouco sobre o homem que está além do artista”.
Acompanhando a transformação
Josh Eells, colaborador da Rolling Stone desde 2010 e também do The New York Times, por sua vez, lembra que a história mais marcante vivida por ele foi a possibilidade de acompanhar a principal mudança na vida de Tom Gabel, da banda de punk rock anarquista Against Me!.
Tom Gabel sempre se sentiu mulher, sempre se identificou com o gênero feminino. Mas só em 2012 revelou sua identidade ao mundo, e foi Josh quem contou essa história. “Encontrei Tom Gabel quando ainda não era Laura Jane Grace. E acompanhei o processo em que ela revelou se identificar com o gênero feminino”, conta. “Um dia, ela me chamou, vestida em roupas femininas e contou que usaria o nome que a mãe teria lhe dado, caso tivesse nascido com o gênero feminino”. A Rolling Stone Brasil não reproduziu a matéria original, mas tem um comentário por aqui.
Lidando com perdas
Diante de tais histórias, o mediador do painel, Will Hermes, autor americano, jornalista e crítico musical destaca a forma como os jornalistas estiveram atentos, de forma sensível, às questões humanas nesses dois casos. Isso, é claro, remete a cobertura de diversas tristes perdas do mundo da música. A Rolling Stone acompanhou a vida e a morte de grandes artistas. Por isso, Will pediu para que contassem histórias emocionantes vividas durante as próprias carreiras.
Brittany Spanos, repórter da revista – e a mais jovem entre eles – lembra mortes recentes, de grandes artistas como David Bowie e Prince. “Bowie morreu em um fim de noite. Trabalhamos até 7h da manhã, viramos a noite. E continuamos falando sobre ele por aproximadamente um mês, tentando encontrar o balanço do impacto dele na música, da cultura”, conta.
Josh conta, então, uma história bastante dolorida. Como muitos devem saber, os irmãos Gibb, dos Bee Gees construíram uma longa carreira na música – especialmente Robin, Maurice e Barry. Os três sempre estiveram juntos. Em 2003, porém, ocorreu a primeira perda: Maurice, que era gêmeo não idêntico de Robin, faleceu – e ele sempre foi lembrado como “o Gibb mais alegre”. O impacto foi grande, mas ainda havia Robin e Barry. Em 2012, contudo, Robin também se foi. Barry foi tristemente nomeado “o último Bee Gee”. E foi nesse ponto que Josh precisou fazer o que sabia fazer: perguntas. E ele afirma: “às vezes é só uma questão de paciência”.
Grandes homens, grandes reportagens
Fazia apenas aproximadamente seis meses que Robin havia falecido quando Josh foi encontrar Barry para uma entrevista. “Eu fui para Miami encontrá-lo. Mas, passei pelo hotel na noite anterior à entrevista e durante a ne ele me ligou lá”, conta. E Barry disse: “Josh, sinto muito mesmo, mas é cedo demais para mim. Estive pensando sobre a entrevista de amanhã e não vou conseguir falar”. O jornalista, então, voltou para Nova York.
A Rolling Stone enviou uma carta para Barry, pedindo que ele avisasse quando se sentisse à vontade para contar sua história. “Depois de um ano ele entrou em contato”, lembra. “Era uma conversa sobre algo muito sério, era a vida toda dele”. Nessa ocasião, a entrevista deu certo – veja o resultado aqui.