OS RITUAIS DO “NOVO NORMAL”: COM A PANDEMIA, SURGE UM NOVO MODO DE INTERAGIR E CONSUMIR
- Por Melissa Lulio
- 3 min leitura
Dois meses de isolamento social se passaram. Enquanto profissionais da saúde e trabalhadores essenciais colocam suas vidas em risco, muitos de nós – executivos, gerentes de marketing, especialistas – vivemos uma maratona digital, entre videoconferências, e‑mails, planos de contingência e encontros virtuais com amigos e familiares. O Zoom (ou outra plataforma semelhante) se tornou o escritório, a mesa de bar, o divã do terapeuta, a escola das crianças e a sala de ginástica.
Agora, após o choque inicial por tudo o que está acontecendo, um “certo” equilíbrio melancólico paira no ar. Com ele, os efeitos colaterais comportamentais da pandemia surgem. Entre a esperada fadiga emocional e o sentimento de luto pelo mundo que conhecíamos, alguns sintomas inesperados também acontecem. Enquanto muitos estavam certos de que o ambiente on-line seria frio e asséptico, ironicamente, a tecnologia se prova um salvador disfarçado. As videoconferências se tornaram um novo espaço seguro de pertencimento, compartilhamento e vulnerabilidade.
É evidente que fazem falta aos nossos sentidos os abraços, o cheiro de café na padaria, o calor do carro estacionado no sol; assim como o músculo ocular e as dores de cabeça indicam o cansaço físico após horas em frente às telas.
Porém, nesses espaços, retomamos a conexão humana e os rituais tão essenciais na vida em sociedade. Em relação ao consumo, gastamos de forma mais conservadora e com mais consciência, buscando suportar o comércio local. Como já postulava Durkheim: “a interação ritual gera as emoções que estão na base da vida social. O domínio da consciência coletiva, a experiência do grupo em si mesmo como um grupo, não é uma mera combinação de consciência individual, mas uma forma sui generis de consciência. Esse domínio da vida social gera ´sentimentos, ideias e imagens que seguem a sua própria lei quando nascem´. A sociedade não se baseia na propensão e capacidade do indivíduo. Em vez disso, os símbolos são formados na interação social e depois utilizados pelos indivíduos”.
Nesse novo mundo e modo de interagir, retomamos a sensação de controle. Agendamos os horários, entramos e saímos dos mais diversos ambientes em um clique, somos mais diretos e ouvimos mais – os cortes na conexão da internet nos lembram a sábia regra, frequentemente esquecida antes da pandemia: quando alguém fala, os demais escutam.
Compartilhe essa noticia:
Recomendadas
+ CONTEÚDO DA REVISTA
Rua Ceará, 62 – CEP 01243-010 – Higienópolis – São Paulo – 11 3125 2244