É HORA DE TRILHARMOS NOSSO PRÓPRIO CAMINHO
- Por Roberto Meir
- 5 min leitura
O mundo foi pego de surpresa por uma reviravolta abrupta no ano em que se esperavam grandes feitos. Em vez das discussões sobre as reformas econômicas que tornariam o ambiente de negócios brasileiro mais atraente, e da liberdade para o consumidor disruptivo ser o que ele quisesse ser, vieram as regras de isolamento social e os padrões rígidos de como se comportar e, mais ainda, do que não fazer.
Regras se tornaram a palavra de ordem. Para garantir a saúde, elas foram estabelecidas para o trabalho, a vida pessoal, os relacionamentos, a mobilidade, a ocupação de espaços públicos e privados. Hoje, se estenderam até para como devemos ser no futuro. Falar do “novo normal” também virou regra. Foi decretado que, o que funcionou para um, vale para todos.
A liberdade de ser e agir como quiser ficou limitada ao querer dentro dos padrões aceitáveis pelo “novo normal”. As ordens foram muitas e às vezes contraditórias: “não use máscaras” e depois “use máscaras”. O consumo pelo e‑commerce, a comida do restaurante pelo delivery, o trabalho dentro de casa, a rua em caso de extrema necessidade, os contatos sem toque.
As normas sobre como as atividades devem voltar e as previsões de como as pessoas pensarão e agirão já foram estabelecidas. Esqueceram-se que o ser humano não pode ser limitado. Quem poderia prever que, na abertura dos shoppings nos Estados Unidos, a procura por eles aumentaria? Padrões estatísticos de paridade, como a regra de que 20% ditam o comportamento de 80%, não se aplicam à realidade. É preciso pensar além das tendências para criar e desbravar novos caminhos.
O espírito livre do capitalismo pede essa postura corajosa de inovar, romper paradigmas e propor visões diferentes. Ao longo da história da humanidade, foram justamente as pessoas que quebraram as normas impostas que trouxeram à luz ideias que mudaram o mundo. A liberdade de escolha não pode ser esquecida.
O objetivo final é e será sempre o mesmo: a vida. Os caminhos possíveis, no entanto, vão muito além das imposições. Nenhum deles é fácil, e as perdas do que deixou de ser vivido são irrecuperáveis. Que país sai do isolamento? Quantos empregos sobreviverão? Que marcas profundas influenciarão as decisões dos consumidores? E em que condições as pessoas poderão consumir? Haverá fôlego para crescimento social?
Todos querem retomar a “normalidade” das suas vidas, mas isso depende das condições e da responsabilidade de cada um. Veja o isolamento em São Paulo, em vigor desde meados de março, e que muito pouco obteve em termos de resultados concretos e de conscientização da população. Fique em casa. Mas quantos puderam ficar? E agora, com a proposta de retomada, nenhum plano de ação de contingenciamento e distanciamento social para evitar o contágio em um dos maiores focos de todos, o transporte público. Afinal, como garantir o transporte dos cidadãos, com segurança em metrôs e trens abarrotados de pessoas?
São fatos que escancaram as fragilidades e deficiências de um País pobre em infraestrutura e em serviços à população, embora muito rico em termos de potencial e recursos naturais.
Mais do que nunca, é preciso olhar para as múltiplas realidades.
As pessoas sem recursos para passar meses sem trabalhar, as pequenas empresas que não conseguem manter seus funcionários com as portas fechadas ou semiabertas, os que não têm internet de qualidade suficiente para estudar online ou para aderir ao e‑commerce, as famílias inteiras que dividem cômodos apertados nas comunidades carentes, os desbancarizados. O Brasil de contrastes, mais uma vez, confirma que não há apenas um novo normal, e sim muitos antinormais.
Quando a realidade que se conhecia entra em xeque, o instinto de sobrevivência fala mais alto. O “eu” vem em primeiro lugar, seguido da família, dos amigos, da comunidade. A união e valorização da vizinhança tomam o espaço do global. A realidade que surge nunca mais será como antes, e tem em sua essência a individualidade. Precisa ser única para ser sustentável. Múltipla para além dos normais.
O futuro abrirá caminhos que ainda não foram desbravados.
Na luta incessante para salvar vidas, o apoio de cada um é importantíssimo. A solidariedade que vem surgindo de empresas e consumidores, em um ato inédito no País, merece todo o nosso louvor. O movimento corporativo vem evidenciando a alta capacidade do setor privado em se organizar e promover ações efetivas para o desenvolvimento brasileiro. Saltam aos olhos o esforço sobre-humano de empresários e todos os seus colaboradores em salvar o seu negócio e os empregos dos trabalhadores. O mesmo não se pode dizer de nossos políticos e governantes, seja na redução de seus ganhos, seja na redução de seus impostos.
É preciso estimular os pequenos empreendedores. Cada consumidor deve preferir o consumo local, que é o grande gerador de empregos. A autoexpressão pede espaço. A necessidade de se sustentar vai trazer soluções inovadoras para levar o Brasil adiante. É preciso dar voz à diversidade de ideias e opiniões. Incentivo para os jovens. Essa é a missão de todos nós: fazer nossos jovens, nossas comunidades, nosso entorno crescerem.
Ao longo dos últimos 40 anos, a crise tem sido o normal dos brasileiros, que sobreviveram a congelamentos, confiscos, desvalorizações absurdas de moeda, apagões de energia, corrupção. Temos a resiliência necessária para passar por mais esta. Novos caminhos virão.
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