Todos nós queremos ver luz no fim do vírus. E também é muito depressivo escutar, sem parar, que o mundo vive a pior crise econômica desde a Grande Depressão. Literalmente confinados ou confinados nas nossas ansiedades e temores, queremos boas notícias sobre tratamentos e sobre a vacina que vai derrotar o inimigo invisível e insidioso.
Nunca tivemos tantos epidemiologistas e futurólogos. Olhamos para o passado em busca de referências. Afinal, a Peste Negra na Idade Média até que foi positiva para abrir o caminho para o capitalismo, em mais um exemplo de destruição criativa.
Serei mais modesto para falar de possíveis inovações, confinado à área de relacionamento com clientes. Começo com a ironia que é a expressão “relacionamento”… ela é maldita, perigosa. A nova palavra de ordem é distanciamento.
Claro que já estamos acostumados ao relacionamento a distância ou virtual, pelo telefone ou pelo computador, mas como fica quem nos atende cara a cara? A balconista na loja, meu barbeiro, o garçom, o comissário de voo que vai trabalhar de máscara?
Eu alinhei alguns ofícios em serviços que parecem especialmente vulneráveis. Por estes dias, existem estatísticas horríveis: metade dos restaurantes em Nova York não deve sobreviver em um regime de tantas restrições sociais, e uma pesquisa da Câmara de Comércio dos EUA alerta que até 40% dos pequenos negócios no país podem desaparecer nos próximos seis meses. Sim, o mundo é dos gigantes para a era D.C. – Depois do Corona. Quem duvida que a Amazon vai cavalgar com ainda mais arrojo e poder para controlar a selva econômica?
“Quem duvida que a Amazon vai cavalgar com mais arrojo e poder para controlar a selva econômica?”
No entanto, em meio a temores, é preciso também visualizar o horizonte de inovações, fruto da destruição criativa ou ao menos de aceleração de tendências. Gigantes tech como Apple, Google e Amazon desenham os planos de oferta de saúde preventiva e telemedicina. Aplicativos são criados a um ritmo infernal em um momento tão aflito da história da humanidade. Imaginem, mais de 75 mil voluntários se alistaram no aplicativo do Serviço Nacional de Saúde, na Grã-Bretanha.
Sei que é um pouco mais cômodo apontar o potencial criativo após a destruição em países mais desenvolvidos, onde se fala com mais insistência em renda básica para compensar o cenário de desemprego em massa, em particular nos setores mais vulneráveis à crise. Lá em cima, eu disse que deprimem os paralelos com a Grande Depressão de 90 anos atrás e o Brasil que amarga a maior crise econômica em 120 anos?
Não quero deprimir ninguém com referências históricas tenebrosas. Então, vamos lembrar que o Iluminismo foi um vírus do bem que alastrou ideias de inovação e invenções que deflagraram a Revolução Industrial.
Mas cá estou com este plano de voo tão ambicioso quando estamos ainda no voo cego no que parece ser apenas o comecinho da era D.C. – Depois do Corona. Sei que é preciso projetar, ver o horizonte, mas devemos viver e sobreviver no dia a dia e com realismo abraçar a incerteza. Bacana que, na era do distanciamento social no relacionamento, o último verbo seja abraçar.
Compartilhe essa noticia:
Recomendadas
+ CONTEÚDO DA REVISTA
Rua Ceará, 62 – CEP 01243-010 – Higienópolis – São Paulo – 11 3125 2244