Abismo digital é pauta da agenda do G20
- Por Danielle Ruas
- 5 min leitura
Estabelecer uma agenda voltada para o fim do “apartheid digital” é prioridade. Essa é a mensagem deixada pela reunião do Grupo de Trabalho de Economia Digital do G20, realizada recentemente no Rio de Janeiro. Nela, Juscelino Filho, ministro das Comunicações do Brasil, afirmou que promoverá uma agenda voltada para a superação das desigualdades no contexto da transformação digital.
O grande desafio para isso, nas palavras do executivo, está na velocidade da adoção das inovações tecnológicas, nas implicações para a governança da transformação digital e na distribuição equitativa dos benefícios. Para superá-lo, uma das ações já em pauta é conectar as cerca de 138 mil escolas públicas das redes estaduais e municipais em todo o País. A ideia é que, até 2026, isso já seja uma realidade “tanto nas instituições de ensino de áreas rurais quanto nas urbanas, criando as condições para a transformação digital na educação”, disse Juscelino.
Ao todo, os temas do Grupo de Trabalho voltados para a inclusão social abrangem quatro eixos: conectividade universal e significativa; governo digital; integridade da informação e Inteligência Artificial para o desenvolvimento sustentável; e redução das desigualdades.
O assunto tem estado presente também em outras agendas. Um dia antes das declarações do ministro, foi realizado, em Brasília, o seminário “Inteligência Artificial para Equidade Social e Desenvolvimento Sustentável”, o qual abordou os desafios da distribuição desigual global de recursos e infraestrutura de IA. O objetivo foi propor os caminhos a seguir e evitar o agravamento das divisões sociais existentes, garantindo que os países do G20, independentemente de infraestrutura, possam se beneficiar dos avanços da IA.
O evento foi organizado pelo Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI) e teve a participação de nomes como Henrique de Oliveira Miguel, secretário nacional de Tecnologia para Transformação Digital do Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação; Luciano Mazza de Andrade, diretor do Departamento de Ciência, Tecnologia e Propriedade Intelectual; Marlova Jovchelovitch Noleto, diretora da Unesco no Brasil; e Tomas Lamanauskas, secretário-geral adjunto da União Internacional de Telecomunicações da ONU.
Na ocasião, Mazza explicou que, dentro do tema IA, era necessário definir o que é prioridade para ser discussão. “Nessa distinção, fica claro para nós o fio condutor da agenda, que reunirá todos os eixos de atuação: a inclusão digital. Dois componentes estão bem claros na gestão de governança de IA que vem acontecendo lá fora. O primeiro diz respeito ao uso ético e responsável das ferramentas de IA, no qual, claramente, prevalece uma ênfase na discussão de riscos e, especialmente, na mitigação desses riscos. O segundo aspecto trata da proteção e promoção dos direitos fundamentais.”
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Um debate essencial
Diante dos desafios impostos pela inclusão digital, Henrique de Oliveira Miguel tem a esperança de conseguir, por intermédio de uma abordagem colaborativa, avançar com a resposta para a pergunta: “Como a IA pode ser orientada para obtermos resultados benéficos e responsáveis que possam impactar e auxiliar as ações dos governos, das organizações multilaterais da sociedade civil, do setor empresarial e da comunidade científica?”
A realidade vai de encontro aos temores de um futuro dominado por máquinas, semelhante às cenas de filme de ficção científica. Tomas Lamanauskas destaca que a IA generativa irá adicionar US$ 4,4 bilhões à economia global e ajudar a mitigar de 5% a 10% das emissões de gases de efeito estufa. “Desde os avanços nos cuidados com a saúde até a eficiência agrícola e à gestão de catástrofes, a IA acelera o nosso progresso no sentido de alcançar os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável das Nações Unidas”, afirma.
Porém, para que tudo isso seja possível, é necessário ética e responsabilidade. Marlova Jovchelovitch Noleto destaca com preocupação a concentração da inovação em poucos países e empresas, o que aumenta as desigualdades. Para a diretora da Unesco no Brasil, a falta de acesso à Internet estável representa um “entrave” para metade da população mundial, e é necessário que o Sul Global desenvolva suas próprias capacidades tecnológicas para manter a diversidade cultural.
As discussões são importantes para promover a inclusão digital, mas as ações concretas são urgentes. Enquanto você leu este texto, houve mais um avanço da Inteligência Artificial.
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