Recentemente, o ator Jerry Seinfeld aceitou um prêmio do sindicado da indústria do entretenimento norte-americana. Na ocasião, ele fez um discurso elogiando a capacidade da indústria de marketing de criar algo próximo da felicidade suprema. Foi um elogio bastante duvidoso, embora no vídeo os publicitários parecessem estar se divertindo. A questão é que, em uma sociedade caracterizada por um excedente de comunicação e um déficit de consumidores, não adianta falar com sobriedade sobre as características de um produto. Quando foi a última vez que se viu marketing somente no rótulo? É preciso mais do que isso.
Os produtos não são a única coisa que há em excesso no mundo. Nós também temos muitas pessoas que querem ser eleitas para cargos públicos. Dada a reputação dos políticos, você deve se perguntar o porquê, mas é apenas como as coisas são. Por esta razão, o debate político também se tornou pós-fatual. Campanhas políticas podem ser vistas como o marketing de diferentes pontos de vista na batalha por votos. Mensagens sobre déficit previdenciário, desemprego e produtividade não necessariamente fazem os corações baterem mais forte. É preciso mais do que isso.
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A última eleição para presidente dos EUA é um ótimo exemplo do que Seinfeld falou: as mensagens de Trump sobre um muro na fronteira mexicana e a deportação de imigrantes ilegais são populares para parte do eleitorado. Não se deve subestimar a ingenuidade dos eleitores, mas acredito que a maior parte dos entusiastas sabia, no fundo, que essas coisas não iriam acontecer. Mas, em meio ao rali eleitoral, se empolgaram e ficaram eufóricos.
É assim que tem de ser quando há muitos produtos e mensagens e poucos consumidores e eleitores: você precisa blefar ainda mais com mensagens pós-fatuais. Isso é muito bom na hora, mas depois vêm os desafios.
Se você compra um produto por entusiasmo, pode se ver diante da decepção. Talvez o produto possa até ter alguma utilidade. Além disso, muitas sociedades regulamentam o limite do quão pós-fatual dá para ser no marketing. Não há tais limites na política, no entanto. Pelo contrário, é protegida contra regulamentações pela sagrada liberdade de expressão, então não há barreiras. Quando as emoções falam tão alto quanto no sistema disfuncional dos States, a decepção pode crescer para outras dimensões. Será mais uma situação tudo ou nada com fortes sentimentos.
É daí que podem começar as rebeliões. Há grandes ameaças da não aceitação dos resultados de uma eleição, e muito disso são provavelmente ameaças vazias, mas apontam para a necessidade de remediar o que podemos chamar de ressacas da realidade. A realidade pode ser bastante chata, mas sempre ganha no final.