Políticas de crédito são normas internas que instituições financeiras e empresas de maneira geral estabelecem para correrem o menor risco possível quando vão oferecer crédito, ou seja, entregar um bem ou uma quantidade em dinheiro com uma promessa futura de pagamento. Quem explica essa premissa básica é o economista Reinaldo Cafeo, associado regional e professor convidado da Fundação Dom Cabral (FDC).
“Como quem está ‘vendendo’ esse dinheiro é a empresa ou instituição, é obvio que ela vai querer se cercar de garantias para que possa receber de volta o que está concedendo”, diz. Por isso, definir que tipo de políticas de crédito será adotado é tão essencial.
Sempre pensando nos riscos e benefícios, trata-se dos diferentes tipos de políticas que determinam as normas que serão seguidas na concessão de crédito, facilitando ou dificultando o acesso do consumidor a ele.
Bem aplicadas, essas normas ajudam a preservar a saúde financeira da organização e reduzir índices de inadimplência, ao mesmo tempo em que beneficiam clientes por meio de decisões embasadas em análises predefinidas. Ou seja, é uma relação de ganha-ganha, tanto para a empresa credora quanto para a pessoa física ou jurídica para quem ela concede o crédito.
Critérios determinantes para definição de política de crédito
A definição de uma política de crédito é um processo crucial que envolve várias etapas e a consideração de diversos fatores, a fim de garantir que a concessão seja realizada de maneira responsável e estratégica.
Além de fazer uma análise de mercado e do ambiente econômico em si e considerar os próprios objetivos financeiros da instituição, um elemento central é a definição dos critérios para a concessão do crédito.
“As empresas olham o nível de renda pessoal e familiar do solicitante, fazem uma pesquisa em bancos de dados de negativados, verificam o patamar de patrimônio, conferem o cadastro positivo e a pontualidade em que ele paga. Então, basicamente são considerados renda, patrimônio, o passado e a pontualidade. A partir disso, bancos e empresas vão estabelecer o limite”, comenta Reinaldo Cafeo.
Ele diz que, a partir dessas variáveis, que não são divulgadas, é criado um score que determina o nível de crédito ao qual o consumidor terá acesso. “É normal que as variáveis não sejam conhecidas e, inclusive, nas instituições financeiras isso é móvel, para evitar que um gerente de banco ou intermediário manipule a informação”.
As políticas de crédito ainda devem se atentar a como os procedimentos e processos serão realizados, desde o fluxo de aprovação, documentação necessária, acompanhamento e cobrança à gestão de risco, capacitação e treinamento da equipe e previsão de revisões periódicas.
Isso envolve, portanto, a colaboração entre diferentes departamentos da empresa, que têm como objetivo encontrar o equilíbrio entre conceder crédito suficiente para impulsionar as vendas e minimizar os riscos de inadimplência.
Rigorosas a liberais: tipos de políticas de crédito
O professor esclarece que, dentro dos tipos de políticas de crédito, as instituições trabalham com o conceito de serem mais liberais ou rigorosas. Normalmente, a adoção entre esses dois modelos já começa a variar de acordo com o perfil da organização.
“Empresas de varejo normalmente são menos rigorosas, porque têm menos estrutura para definir o limite de crédito. Então, acabam somente checando se a pessoa não tem alguma negativação, se não está com problemas com cheques sem fundo ou há um título que não pagou. Já as instituições financeiras são mais rigorosas”, exemplifica.
Além disso, tipos pré-definidos podem orientar as organizações a escolherem qual a melhor política de crédito para sua realidade. O especialista ajuda a defini-los.
Liberal no crédito, rigorosa na cobrança
Encaixam-se neste tipo instituições que são muito liberadoras de crédito e mais flexíveis nos critérios de concessão, mas que, na outra ponta, são rigorosas na cobrança. “Normalmente é o comportamento das financeiras, que facilitam o crédito, mas ficam em cima para receber”, fala o economista.
Rigorosa no crédito, liberal na cobrança
Do lado oposto, há as instituições que são muito rígidas para conceder o crédito, mas, quando há a inadimplência, acabam levando a negociação de maneira mais lenta. Afinal, neste processo mais rigoroso de concessão, sabem o histórico de bom pagador do cliente.
Rigorosa no crédito, rigorosa na cobrança
Aqui se encontram as instituições internacionais, que são rigorosas de ponta a ponta. “Elas são criteriosas tanto para liberar o crédito quanto no seu recebimento. Na prática, são aquelas que, passado um curto período de não pagamento, já suspendem o crédito e negativam a pessoa”.
Liberal no crédito, liberal na cobrança
Empresas que têm pouca estrutura de análise e cobrança e que confiam mais no consumidor são aquelas que demoram para cobrar uma dívida. Este tipo de política de crédito está mais presente no varejo ou em negócios que precisam aumentar o volume de vendas.
Moderada no crédito, moderada na cobrança
Por fim, existem também as organizações que optam por ficar no meio termo, as chamadas moderadas, que não são tão rigorosos nem na liberação do crédito, nem na cobrança. A intenção é buscar um equilíbrio entre risco e oportunidade de venda.
Mudanças, reavaliações e tendências nas políticas de crédito
Ter políticas de crédito bem definidas não significa ser inflexível. Elas podem, sim, ser adaptadas e a revisão é permanente, como Reinaldo Cafeo exemplifica.
“Às vezes, é uma instituição que tem uma cobrança rigorosa, mas se depara com um pequeno protesto de uma conta de energia de três meses atrás. Ela pode chamar para uma conversa, ver o que aconteceu, pode ser que tenha ocorrido uma mudança de endereço e a conta ficou pendente. Não é porque é erro, é considerar a realidade em que a política funciona”.
Além disso, novidades e inovações tecnológicas têm trazido impactos no processo de concessão e cobrança de crédito. É o caso do cadastro positivo. Com ele, uma boa parte das organizações vêm olhando não só a pessoa que não paga, mas principalmente se paga em dia.
Já a Inteligência Artificial e a automação vêm sendo utilizadas para aperfeiçoar a análise de crédito, em especial em sistemas que envolvem grande quantidade de dados ou padronização de decisões.
“A IA pode fazer um levantamento rápido sobre o histórico da pessoa, analisar plataformas, etc”, explica o economista. “Não há dúvida que de que cada vez mais vai haver mais informações sobre aquele que está pedindo crédito, pessoa física ou jurídica, e isso vai impactar no maior ou menor rigor na liberação”.
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