Sam Kimura esteve procurando o par perfeito. Tinder? Não. O par que ela procurava era muito mais dificil de achar. O que ela precisava era de um parceiro que pudesse conquistá-la em termos de DNA: ela teve uma doença rara, parecida com leucemia, que só o par perfeito poderia curar. E não o encontrou. Contudo, Sam conseguiu sobreviver – mesmo sem a doação de medula óssea.
Mike Thompson teve câncer. “Tudo o que eu sabia sobre isso era que as pessoas morriam por causa dessa doença”, diz. Mas ele deu sorte: achou um par perfeito e conseguiu a doação.
Suzi Marino não tinha uma doença. Na verdade, ela foi encontrada por uma pessoa com leucemia. Ela era o par perfeito de alguém e fez a doação: “o processo foi muito fácil”, conta. “Em semanas eu poderia esquiar, sem tomar nenhum medicamento”.
Essas três pessoas simbolizam três diferentes cenários de uma situação muito complexa. Considerando os cadastros do Brasil, a chance de achar um doador compatível é uma em cem mil. É realmente difícil conseguir, mas, como aponta Alex, irmã de Sam e mediadora do painel realizado no SXSW, comenta que as pessoas não sabem que o processo de doação de medula é simples e quase indolor. E, por isso, não se dispõem a doar.
Suzi comenta justamente que essa é a primeira pergunta que todos fazem: “Não dói?”. Ela explica que não, que o prazer de salvar uma vida torna o pequeno incomodo da doação em algo muito pequeno, imperceptível. Infelizmente, o processo vivido por ela teve um final não tão feliz: depois da doação, há uma atualização de um ano sobre a pessoa que recebeu a doação. Mas, o rapaz de 28 anos que recebeu a doação de Suzi voltou a ficar doente depois de alguns meses e não resistiu. “Se eu não tivesse doado, não teria dado a ele nenhuma chance de esperança. Por oito meses, ele foi feliz novamente”, afirma. E valeu a pena.
Como é o encontro do par ideal?
“Viajamos todos os 50 estados dos EUA, durante um ano, tentando encontrar o par perfeito”, comenta Sam. “Não é fácil encontrar quem queira participar, pois as pessoas têm ideias pré-concebidas. Mas ainda existem pessoas maravilhosas como Suzi, que topam doar”. Não por acaso, ela se tornou cofundadora do Sharing America’s Marrow – algo como “Compartilhando a Medula da America”. Como afirmou Sam, é evidente que a existência de uma tecnologia voltada para essa questão mudaria o cenário. O máximo de digitalização que existe, hoje, é o cadastro online para eventuais doações de medúla óssea.
O mais interessante é que os homens têm ossos mais densos, o que os tornam “melhores doadores” – o que não exclui a necessidade de ter doadoras, também. Ao mesmo tempo, como comenta Sam, dados mostram que homens tem mais medo de médicos – o que pode fazer com que eles fujam do processo de doação.
Um dos dados mais absurdos nesse sentido é que 25% dos doadores desistem depois de encontrarem os parceiros. Ou seja, desistem de salvar vidas, mesmo sabendo que são capazes. Por outro lado, Suzi comenta que “é uma das melhores sensações possíveis saber que temos o direito de salvar a vida de alguém no mundo”. Thompson, por sua vez, comenta que “a doação pode não mudar sua vida, mas com certeza mudará a vida de outra pessoa”.