Com isso, o limite passa de 30% para 35%, contudo, esses 5% a mais será destinado apenas ao pagamento da fatura do cartão de crédito. Se por um lado a pessoa que toma esse crédito consegue uma folga para pagar suas contas, principalmente, com os juros altíssimos do cartão de crédito, por outro preocupa, pois mostra como este alto o índice de endividamento da população, que nesses casos poderão já ter comprometido mais de um terço da salário antes mesmo de receber.
Então, como se deve agir? Avaliemos o seguinte: se a pessoa já não conseguia viver dentro do padrão de vida que 100% do seu salário podiam oferecer, como ficaria com apenas 65%? Muito provavelmente teria que realizar novos empréstimos ou parcelamentos, criando o famoso efeito bola de neve. A conta é bem simples: quem ganha R$ 2 mil teria uma redução de R$ 700, ficando com apenas R$ 1,3 mil.
Imagine se o trabalhador, em vez de utilizar esses R$ 700 do cálculo acima para consignados, utilizasse para investir? Em 10 anos, ele teria aproximadamente R$ 190 mil (rendimento mensal de 0,65% e correção anual de 10% de inflação real). É claro que esse é apenas um exemplo de como funciona quando temos educação financeira e praticamos o consumo consciente.
É claro que, no caso de pessoas que já estão endividadas, se levarmos em conta os juros cobrados ? segundo o Banco Central, a taxa média cobrada pelo empréstimo consignado é de 27,3% ao ano, enquanto que os juros do cartão crédito, por exemplo, ultrapassam a marca de 372% ao ano ?, o consignado se torna mais interessante.
Ainda assim, essa não é uma prática que deve ser recorrente e muito menos feita por impulso, é necessário muito controle e planejamento. E fica cada vez mais evidente a necessidade de educar financeiramente os colaboradores, afinal de contas, o problema não são as ferramentas de crédito, mas sim a forma que são utilizadas. O foco não deve ser a resolução da consequência do problema, mas sim da causa, motivando o consumo e o crédito conscientes.
Para complementar, separei algumas orientações básicas e práticas para que as pessoas tenham consciência na hora de utilizar esta linha de crédito:
1. Antes de tomar qualquer crédito é importante conhecer a sua real situação financeira, ou seja, fazer um diagnóstico financeiro;
2. É muito importante não deixar com que este empréstimo e que os problemas financeiros reflitam em seu desempenho profissional, pois será muito mais complicado pagar qualquer prestação sem salário;
3. Antes de buscar pelo crédito consignado, é importante tomar consciência de que o custo de vida deverá ser reduzido, isto porque a prestação deste reduzirá o seu ganho mensal diretamente em seu salário ou benefício de aposentadoria;
4. É muito comum a utilização do crédito consignado para quitação de cheque especial, cartão de crédito e financeiras, porém, a troca simplesmente de um credor por outro, sem descobrir a causa do verdadeiro problema, apenas alimentará o ciclo do endividamento;
5. A linha de crédito consignado, sem dúvida, se bem utilizada, é importante, porém, não pode fazer parte da rotina de um assalariado ou aposentado. Sua utilização deve ser pontual;
6. Tem sido comum o empréstimo do nome a terceiros por parte de aposentados e até mesmo funcionários, mas este procedimento é prejudicial a todos;
7. Caso encontre taxas de juros mais baixas, é válido fazer portabilidade desse crédito. Para os funcionários, o caminho será falar com a área de Recursos Humanos; para os Aposentados, as possibilidades são inúmeras, é preciso pesquisar;
8. Para quem quer tomar o crédito consignado, recomendo que, antes mesmo de assinar o contrato com a instituição financeira, se faça uma boa reflexão e analise se este valor que será descontado diretamente no salário ou benefício não fará falta para os compromissos essenciais mensais.
* Reinaldo Domingos é educador e terapeuta financeiro, presidente da DSOP Educação Financeira, Abefin e Editora DSOP, autor do best-seller Terapia Financeira e do lançamento Mesada não é só dinheiro, entre outras obras.
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