O problema é o seguinte: a pandemia inutilizou milhares de agências bancárias e ainda por cima trouxe o custo da complexa digitalização. Agora, bancos do mundo inteiro precisam se adaptar às novas condições que se impõem junto com o aparecimento de instituições financeiras com forte proposta de futuro, as fintechs unicórnios. Sobretudo por conta dos custos, no Brasil e no mundo, bancos tradicionais preparam mudança radical nos próximos três anos, segundo um estudo da KPMG.
De acordo o estudo “Novos Imperativos de Novos Custos no Setor Bancário” que ouviu mais de 200 líderes do setor, quase 30% dos executivos de alguns dos maiores bancos do mundo estão focando uma mudança tendo em vista o desafio da transformação de custos. O relatório aponta também que os bancos devem se apressar na elaboração de estratégias dessa transformação.
E eles devem se apressar basicamente por conta de duas preocupações maiores dos bancos no mundo pós-covid: a perda de receita e o gerenciamento de custos. Para mais de 60% dos pesquisados, a prioridade dada à redução de custos aumento desde a pandemia, enquanto outros 59% afirmaram que a digitalização é o fator de custo mais importante.
“No ambiente atual, os bancos em todo o mundo precisarão reduzir a relação custo/lucro de forma relevante, talvez 10 pontos percentuais ou mais. Eles precisam rever ou até reinventar o modelo operacional e aproveitar a agilidade, resiliência e transformação digital que mobilizaram as respostas iniciais à pandemia para garantir a otimização sustentável de custos. Aqueles que não se moverem com rapidez suficiente, provavelmente, serão incapazes de concorrer em preço, valor e entrega com os competidores mais enxutos e eficientes, perdendo participação no mercado”, analisa o sócio líder do setor financeiro da KPMG no Brasil, Cláudio Sertório.
Busca da sustentabilidade
O relatório global da KPMG diz que o ambiente atual pede novos modelos operacionais. Obviamente, os bancos sabem disso, e por isso 85% dos executivos entrevistados disseram que estão acelerando o processo de renovação no gerenciamento de custos, enquanto 83% disseram que estão buscando cortar custos. Atualmente, a maioria dos bancos está aumentando suas metas de corte de custos em até 10%, e quase 20% deles buscam reduzi-los em mais de 10%.
“Na esteira da pandemia da covid-19, a agenda de custos foi elevada a um novo patamar de importância e a maioria dos bancos está procurando intensificar e acelerar essa transformação de maneira significativa. Com a covid-19 destacando o imperativo de custos para os bancos, eles têm a missão de irem ainda mais longe e criar um novo plano para o futuro. No entanto, poucos conseguiram obter todos os benefícios dos esforços anteriores. Consequentemente, os níveis de custo permanecem teimosamente acima de onde deveriam estar. O sucesso depende de ter uma direção clara e consistente de cima para baixo e uma sólida cultura de custos”, finaliza o sócio líder de serviços financeiros da KPMG na América do Sul, Ricardo Anhesini.
Brasil: fechamento de agências como solução parcial
Para se ter uma ideia da magnitude do desafio dos custos e a pandemia aos bancos, só no Brasil os cinco maiores bancos brasileiros devem fechar 30% de suas agências físicas dentro dos próximos três anos para se segurarem. De acordo com a consultoria alemã Roland Berger, isso significa que Banco do Brasil, Bradesco, Itaú Unibanco, Santander Brasil e Caixa Econômica Federal precisam fechar as portas de cerca de 5 mil. Em 2020, eles fecharam 1.375 agências.
Os cinco principais bancos do País tiveram queda média de 25,2% nos ganhos em 2020, mas ainda assim conseguiram lucro na casa dos R$ 79,3 bilhões. Mas ainda que continuem com grande rentabilidade, tanto o estudo da Roland publicado em março quanto o recente relatório da KPMG recomendam que a revisão de custos deve ir para além do fechamento das agências e motivar novas formas de relacionamento com os clientes.
“Outro fator importante é que a otimização de custos não deve ser vista de forma negativa como algo que restringe a atividade, a inovação e o foco no cliente. Pelo contrário — deve ser visto como parte de um compromisso com a melhoria contínua, uma pergunta contínua sobre como as coisas podem ser feitas melhor e com mais eficiência. Também deve ser visto como uma lente constante sobre o cliente — enfocando o que realmente importa para ele e como a entrega pode ser mais eficiente”, aponta o estudo.
Sendo assim, o alerta é para que os bancos tenham a melhora no desempenho como um esforço contínuo e se concentrarem na evolução constante de suas iniciativas como parte de uma estratégia de custo geral. Este é o caráter noticioso do estudo da KPMG, portanto. De fato, a transformação de custos não é nova. A questão é que, nesta atual fase de transformação, o consumidor é quem deve ganhar com os cortes de custos.
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