A crise climática mundial e carregam consigo uma visão de sustentabilidade e ecoansiedade. Além disso, já nasceram eco-friendly, imersos nas novas tecnologias e com altíssima consciência social.
Os membros dessa geração são conhecidos por viverem em comunidade e, consequentemente, serem politicamente engajados – “política”, aqui, deve ser interpretada no sentido romano de contribuição no coletivo. Assim, são ultraconscientes de que todos os seus valores e comportamentos terão consequências no ambiente em que vivem – sejam eles hábitos de consumo, sejam de habitação ou de ética humana, apenas para citar alguns.
O termo foi cunhado pela especialista em tendências Iza Dezon, representante brasileira oficial da Peclers Paris e fundadora da Dezon Consultoria Estratégica. “Os nativos ecológicos estão conectados à crise climática 24 horas por dia desde que se entendem por gente. A preocupação e a persistência da crise climática pra eles são especialmente tangíveis”, explica ela.
Reavaliando estratégias
As preocupações intrínsecas dos nativos ecológicos e seu engajamento em trazer novos hábitos para a sociedade estão evocando mudanças fortes nas cidades, empresas e marcas, que vão muito além da reciclagem e da separação de resíduos. Com as Gerações Z e Millennial ganhando relevância como forças de trabalho e de consumo da sociedade, as empresas precisam repensar estratégias para cativar esse público, não apenas em termos de compra e aquisição, mas também na experiência de contratação e na retenção de talentos.
Dezon compartilha: “Uma preocupação central das empresas é como elas vão conseguir atrair funcionários. Não adianta ter uma marca e não conseguir contratar o jovem de hoje. As pessoas não estão procurando só consumir com mais consciência, mas também pertencer a marcas e sistemas que estejam preocupados com impacto positivo social e ambiental”.
E como as corporações devem fazer para dialogar com os nativos ecológicos digitais? Para a especialista, a estratégia mais importante é que as empresas comecem a olhar de dentro para fora, promovendo mudanças que sejam estruturais e não apenas incrementais. Ela chama a atenção para o chamado greenwashing anglicismo que designa empresas e organizações que fazem marketing “verde” mas que não adotam, internamente, valores realmente amigáveis ao meio ambiente.
“As empresas precisam conseguir alinhar a comunicação com o comportamento interno. Muitas ainda fazem toda uma comunicação sobre sustentabilidade, mas no escritório ainda utilizam copos de plástico, por exemplo”, afirma. Ela complementa dizendo que isso vale não só para o ecológico, mas também para todas as questões que estão em voga ultimamente, como racismo, feminismo, homofobia, transfobia etc.
O perfil dos nativos ecológicos
Vivem em comunidade ✓
São membros da Geração Z e final dos Millennials ✓
Não entendem negócios feitos puramente offline ✓
Buscam sair da zona de conforto ✓
São politicamente engajados ✓
Seus parâmetros de luxo não envolvem ostentação ✓
Seguem a lógica da redução de recursos (e não da redução financeira) ✓
Investigam e questionam o que está por trás do que consomem ✓
Do início a um novo início
A preocupação institucional citada por Iza Dezon já é velha conhecida de muitas empresas pelo mundo, que já estão buscando inovações sustentáveis e incrementais. O crescimento das redes sociais, inclusive, tem “fechado o cerco” ao redor da problemática do greenwashing, através do poder de divulgação unilateral de informações.
Os meios de comunicação digitais viabilizaram o desejo de consumidores que buscam dialogar objetivamente com as marcas e questioná-las muito mais, demandando informações sobre como, onde e por quem são produzidos seus produtos. Sem este cenário, não há mais como construir uma relação de confiança e credibilidade com o público.
O comportamento focado em informações sobre toda a cadeia de produção e descarte faz parte do dia a dia da gestora ambiental Júlia Luchesi, apresentada no projeto Identidades. Ela contou à Consumidor Moderno que escolheu trabalhar com gestão ambiental para desenvolver projetos que visam gerar impacto para a sociedade, tanto para melhorar a maneira como a população lida com o meio ambiente quanto pela perspectiva de relacionamento social.
Um dos momentos mais importantes de sua carreira, ela conta, foi quando trabalhou no Movimento Nacional dos Catadores de Materiais Recicláveis (MNCR), movimento cuja missão é o empoderamento dessa classe trabalhista. Hoje, cerca de 90% do lixo reciclado no Brasil é destinado à reciclagem por catadores, o que faz destes indivíduos peças-chave nas ações sustentáveis do País.
Depois disso, anos de trabalho a levaram a Berlim, na Alemanha, para trabalhar com a educação ambiental de jovens onde teria um chefe catador há 30 anos e militante em políticas públicas, e a Índia, onde morou em uma casa com mulheres de uma cooperativa de catadoras sem nenhum acesso a eletrodomésticos.
Essas experiências “viraram a chave” nos valores de Júlia, que trouxe novos aprendizados e práticas de consumo muito mais conscientes após seu retorno ao Brasil. “Quando você tem a noção de que cada coisa que você faz transforma o território, você fica mais exigente. Desde comprar um produto, saber onde vai parar este produto até olhar nas informações onde foi produzido”, conta. “Sou a chata de casa no bom sentido de ter de lembrar que é importante separar as embalagens, cuidar do resíduo orgânico, ter uma composteira; são ações diárias. Trabalho com isso, então é algo que permeia minha vida em vários âmbitos.”
Leia a matéria completa na edição de setembro da revista digital Consumidor Moderno, clicando aqui.
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