SXSW 2023 – “Eu não imaginava que a imortalidade apareceria na forma de uma máquina”, brinca Esther Perel, na abertura do painel “The Other A.I: The Rise of Artificial Intimacy and Whats it Means for Us“. Autora do livro “Sexo No Cativeiro”, traduzido para mais de 24 idiomas, o painel da psicoterapeuta atraiu grande público do SXSW 2023 – e foi como participar de uma sessão de terapia em grupo, com muito humor, mas também bastante espaço para reflexão.
Para Esther, falar sobre a outra IA, não a Inteligência Artificial, a “Intimidade Artificial”, precisa ser contextualizada. Tudo se intensificou durante o período de isolamento da COVID 19.
IA: A solidão moderna se mascara de uma hiperconectividade
“Eu fui afetada fortemente pela tecnologia durante a pandemia. Parece que eu estava vivendo pelo celular, como que amparada por aparelhos. Não me entenda mal, eu adoro que as inconveniências sejam removidas, mas precisamos delas para entender o que somos, e o que não somos. As experiências e as falhas são essenciais para o nosso crescimento”, comenta a especialista, que completa: “A solidão moderna se mascara de uma hiperconectividade”.
“Não da para negar os seus avanços, mas quando a IA entra em interações humanas, é preciso entender que ela chega sem contexto, sem opinião política, sem sentimentos genuínos”
Para a Esther, é preciso entender os prós e os contras da tecnologia e dos seus efeitos para os nossos relacionamentos. É claro que não da para negar os seus avanços, mas quando a IA entra em interações humanas, é preciso entender que ela chega sem contexto, sem opinião política, sem sentimentos genuínos. “Sentimentos genuínos de amor convivem com sentimentos negativos. O amor pode vir com medos. Muitos dos problemas que temos, não são problemas, são paradoxos. E como a IA poderia replicar um relacionamento de verdade?”, indaga.
De acordo com a psicoterapeuta, algumas pesquisas já foram realizadas em relação ao nível de satisfação das pessoas em interações com a IA. Os resultados mostram que quanto mais a saúde mental estiver em dia, menor a expectativa com a IA e, por isso, maior a satisfação. “Mas não é porque você está satisfeito, que quer dizer que foi bom. Pensem no sexo”, brinca.
O grande problema, afirma Esther, é que a “Intimidade Artificial” está abaixando as expectativas do que significa ser um bom relacionamento. “E nós já passamos isso com a fase de junk food. A rapidez, o delivery, foi bom, mas agora estamos voltando a atenção para uma alimentação mais saudável. Por que então estamos fazendo o mesmo com nossos relacionamentos e tecnologia?”, provoca. “Aceitamos atenção pela metade como algo suficiente. Isso é intimidade artificial. Ela está cheia de desconexões que estão cada vez mais socialmente aceitáveis”, frisa.
“A IA pode te dar dicas de tendências, mas como poderia dar dicas de relacionamento sendo desprovida de crenças pessoais?”
Para Esther, uma da questões que devem ser consideradas é o efeito que a IA tem no dia a dia dos nossos relacionamentos, porque ao retirar os desafios da vida, automatizando nossa vida o máximo possível, Esther acredita que as pessoas estejam perdendo a habilidade de se relacionar e ser íntimo.
“Intimidade de verdade é uma ambivalência de sentimentos”, diz. “Precisamos parar de tratar os dilemas de relacionamento como se as soluções fossem fáceis de tirar do contexto. As tentativas de remover a dor estão nos deixando despreparados para todas as inconveniências do que significa viver ao lado de outra pessoa. A IA pode te dar dicas de tendências, mas como poderia dar dicas de relacionamento sendo desprovida de crenças pessoais? Não se esqueça, você está vivo!”
+ Notícias
SXSW 2023: 10 princípios sobre design na era da Inteligência Artificial
SXSW 2023 analisa o potencial agrotech para além da agricultura