Conhecer melhor o paciente e ter todo seu histórico médico na mão pode revolucionar a forma como se faz medicina. A partir da gestão de dados, o profissional de saúde consegue compreender a história do paciente e abordar o tratamento de uma maneira mais completa e eficaz.
Deste modo, é possível evitar pedidos e encaminhamentos desnecessários e, portanto, realizar uma conduta mais adequada à necessidade do paciente. O resultado disso é o direcionamento do cuidado para a prevenção e a facilitação do acesso à saúde.
Imagine você ir ao pronto atendimento devido a uma dor de garganta. O médico examina, constata a infecção e receita um antibiótico. Essa dor de garganta tem sido recorrente, a cada dois ou três meses ela reaparece, e sempre é tratada da mesma forma para ser eliminada. Contudo, você tem outros sintomas que não relata aos médicos por acreditar que não sejam importantes. Desta forma, as informações da avaliação médica ficam comprometidas, impossibilitando identificar outros fatores que poderiam ocasionar a infecção.
Com a inserção da tecnologia no suporte diagnóstico, o tratamento poderia ocorrer a partir da observação de todos os atendimentos e exames anteriores e, desse modo, com uma visão mais completa do problema, abordar a doença de maneira menos imediata. Assim, poderia ser averiguada a real causa da dor de garganta, por exemplo.
Gestão de dados e os benefícios para a população
A digitalização e informatização de dados do usuário possibilita a integração de informações e, com ajuda da tecnologia, melhora-se a compreensão da jornada do paciente. Isso porque com um prontuário único eletrônico, por exemplo, tem-se todo o histórico de saúde do consulente.
Essas informações, ao serem tratadas com recursos de Big Data e Inteligência Artificial, podem gerar dados preditivos que servem como base para outros pacientes. Desta maneira, com a gestão de dados da saúde, é possível contribuir com melhores diagnósticos, condutas mais adequadas e com melhores indicadores de qualidade de vida de toda uma população.
De acordo com o CEO da plataforma Saúde iD, o médico Eduardo Oliveira, o primeiro passo para colocar a prevenção enquanto objetivo do cuidado em saúde é a capacidade de integrar dados e transformá-los em algoritmos preditivos. Depois, validar a fórmula matemática na prática.
“Essas informações servem de insumos. Elas nos ajudam a entender comportamentos, principalmente voltados ao desenvolvimento de patologias. E a tecnologia vem nos ajudando muito na integração de todas essas informações em um único ambiente. Com essas informações, aumenta-se a capacidade de gestão e de atuação”, explica o profissional.
Com a evolução dos algoritmos preditivos, será possível prever a probabilidade de eventos negativos futuros, como potenciais doentes, e o próprio comportamento da doença.
Contudo, o médico ressalta que é preciso um longo tempo de análise, desde a criação de um algoritmo preditivo, a testagem, até a confirmação de sua eficácia. “É preciso ter e avaliar comportamentos semelhantes, compará-los com populações de controle que tenham comportamentos distintos, para que isso nos assegure que esse comportamento, de fato, vire um padrão, e que ação futura sobre esse padrão traga benefício de forma muito clara, confirmando que aquilo faz sentido passarmos a atuar”, diz.
A automatização e a humanização
Mesmo nos dias atuais, ainda é um desafio conseguir associar a tecnologia com a humanização do atendimento. Mas, segundo Eduardo Oliveira, essa dificuldade de aceitação não é de hoje, sendo comum aliar o desenvolvimento tecnológico à frieza das máquinas.
Antigamente, para o médico examinar o coração e o pulmão, auscultar, ele encostava a orelha no tórax do paciente. Não havia nenhum outro artifício. Então ele ficava muito próximo do paciente. Mas quando o estetoscópio foi criado, um pequeno afastamento foi imposto entre médico e paciente, com isso, pensava-se que ficaria comprometida a humanidade do atendimento.
Contudo, isso não ocorreu. O avanço tecnológico promoveu maior acurácia na ausculta de doentes, melhorando um procedimento já existente, sem o comprometimento da relação médico-paciente.
Hoje, caminha-se para uma automatização de boa parte dos setores da saúde. E quando a tecnologia subsidia processos de trabalho ou mesmo equipamentos, ela auxilia no grande desafio de aumentar a acessibilidade à saúde. De acordo com o CEO da Saúde iD, os processos quando são automatizados, permitem escalar o atendimento.
Assim, quanto melhor for a gestão de dados em todos os níveis de atenção à saúde, ou seja, nas consultas preventivas, de especialidades médicas e nos hospitais, enfim, ao longo de toda cadeia do cuidado, melhor será o processo e o consumo dos recursos. Desta forma, o sistema de saúde se torna mais eficiente e menos dispendioso, aumentando as possibilidades de oferta, o que reverte em acessibilidade da população.
Segundo Eduardo Oliveira, a gestão de dados e a tecnologia podem ser ferramentas para auxiliar a mudança de cultura da emergência – quando o paciente busca o pronto-atendimento como primeira alternativa de cuidado.
“As pessoas vão diretamente ao pronto-socorro. E nem sempre é o melhor lugar para tratar determinado tipo de problema. Esse uso indevido varia de 70 a 80%. E muitas vezes isso não resolve o problema do paciente. Apenas encarece o sistema e não se traduz em qualidade”, revela o médico.
O cenário das healthtech
Atualmente, há inúmeros locais de desenvolvimento de inovação em saúde no Brasil, que aproximam grandes centros de pesquisa, privados e públicos, a corporações e startups. Essa união cria ecossistemas favoráveis ao desenvolvimento tecnológico para a área da saúde e traz sinergia para que soluções sejam incubadas e aceleradas. Assim, rapidamente podem tracionar o mercado, promovendo benefícios aos clientes, pacientes e prestadores de serviço do setor da saúde.
Esses centros apontam para um novo modelo de negócio na área da saúde, bem mais enxuto e altamente tecnológico. De acordo com o relatório de 2020 da Distrito InovaHC, hub de inovação em saúde, o número de startups aumentou vertiginosamente a partir de 2010. A região Sudeste é onde surge a maior parte delas, somando 85%.
Dentre as maiores inovações na área da saúde destacam-se:
- O desenvolvimento de wearables, dispositivos ou sensores com wi-fi que podem ser vestidos para monitoramento de indicadores de saúde;
- A criação de marketplaces na saúde que aproxima oferta e demanda, ou seja, clientes e prestadores;
- A utilização de Inteligência Artificial e Big Data para criar algoritmos preditivos;
- A criação de dispositivos inteligentes com interface ao sistema nervoso;
- A telemedicina vem aumentando o acesso aos serviços de saúde.
Com a evolução dos recursos tecnológicos, é evidente que a área da saúde e seus prestadores e pacientes sejam beneficiados e a cada dia o atendimento alcance mais pessoas.
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