Muito se tem discutido sobre o impacto que as novas gerações trarão para o mundo do trabalho e do consumo. É possível notar, em toda parte, pessoas de diferentes idades discordando sobre tudo. Há muito já não concordamos sobre o plano de carreira ideal, as melhores empresas, a maneira perfeita de investir nosso dinheiro, as formas de comunicação mais eficazes e por aí vai…
Não é preciso ir muito longe. Quem nunca entrou numa batalha sem fim com os pais e/ou avós por conta de assuntos tolos. Nessas horas, é como se a escolha do melhor aplicativo de trânsito fosse tão importante quanto à decisão de travar, ou não, uma nova guerra mundial. Tal fato se explica, pois enxergamos o mundo de maneiras diferentes. Segundo Karl Mainheim, pensador alemão, em seu livro sobre o tema, eventos históricos vividos por um mesmo grupo de indivíduos, em uma mesma relação de espaço-tempo, nos leva a ter uma propensão maior a compartilhar as mesmas visões de mundo. Isto é, em geral, pessoas que compartilham momentos históricos juntos tendem a valorizar e pensar a realidade de maneira similar.
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Em linhas gerais, podemos citar alguns exemplos: os famosos baby boomers, nascidos pós-guerra, cresceram em um ambiente cujos avanços da medicina e crescimento econômico elevado em todo planeta proporcionou o surgimento de uma nova forma de estar no mundo. Eles foram a primeira geração a sonhar com expectativas de vida mais duradouras e promissoras e com chance de aproveitar cada fase da vida até a última gota. Inventaram uma nova juventude cujo questionamento do status quo e a contestação eram regras. Com isso, criaram novas maneiras de amar e se divertir. Ser jovem era ser livre. Seja no festival Woodstock, no engajamento nos movimentos sociais ou na exploração da sexualidade pós-invenção da pílula.
Muito diferentes dos baby bomers, a próxima geração é a dos yuppies – daqueles nascidos entre os anos 1960 e 1970. Nesse tempo, o mundo era marcado pelo forte acirramento da guerra fria. Do lado de cá, o capitalismo fazia questão de marcar em nossas mentes as benesses do sistema: valorização excessiva do individualismo; renascimento do hedonismo e da busca por uma vida com prazer (sem culpa), sobretudo, pelas coisas que o dinheiro podia comprar; surgimento da competitividade e da meritocracia como régua de medida de todas as relações sociais.
Foi-se o tempo que era fácil criar estratégias de marketing ou vendas pensando somente em gerações. Se, como já expusemos, é o compartilhamento de momentos em comum que nos leva a pensar o mundo de forma similar, diante da compressão do espaço-tempo e da “internetização” da vida, cada vez maior em nosso dia a dia, vamos ter cada vez mais gerações. Se antes, os grupos etários seguiam ciclos de vinte anos, agora, há mais gerações do que nunca. Não é à toa que os especialistas se esforçam para classificar os indivíduos em termos de geração X, Y, Z… Daqui para frente vai faltar letra para tanta diferença.
*Michel Alcoforado, antropólogo e sócio fundador da Consumoteca, uma butique de conhecimento especializada no consumo e nas tendências de comportamento do brasileiro