A Suzano Papel e Celulose é uma das maiores empresas do setor e do Brasil, com faturamento na casa dos R$ 10 bilhões. Por trás deste verdadeiro portento, está a gestão do presidente Walter Schalka. Há cinco anos à frente da Suzano, Schalka fala para quem quiser ouvir que o seu estilo de gestão está longe daquele líder de antigamente. Mais: aquele perfil de “super CEO” está bem ultrapassado.
Confira a edição online da revista Consumidor Moderno!
Para ele, a liderança de hoje precisa ser baseada no trabalho em equipe. Um jovem que acabou de entrar na empresa pode ter ideias que ajudem na tomada de decisão de um CEO, por exemplo. Logo, aquele líder que não ouvir a todos, inclusive aqueles estão em cargos mais baixos, pode estar fadado ao fracasso.
“A missão do gestor não é manter o status quo e fazer com que as coisas permaneçam como são, e sim estar constantemente criando coisas novas e transformando”, afirma o executivo.
A única certeza que Schalka gosta de falar que tem é que o Santos é o melhor time do Brasil – sem clubismo, é claro. A sua paixão e o seu estilo de gestão renderam até boatos de que ele seria convidado para disputar a presidência do clube de craques como Pelé e Neymar.
Confira, a seguir, a sua entrevista.
CM – Na sua opinião, qual é o perfil atual do líder?
WALTER SCHALKA – Acredito em um estilo de gestão focado no diálogo e no trabalho em equipe. E que permita, sobretudo, que as pessoas tenham autonomia e sintam que participam ativamente no processo de mudança da companhia. Também acredito na descentralização do comando e no conflito construtivo, de forma que os profissionais tenham espaço para divergir, argumentar e trocar experiências.
CM – Como assim?
WS – A missão do gestor não é manter o status quo e fazer com que as coisas permaneçam como são, e sim estar constantemente criando coisas novas e transformando. Por isso, buscamos sempre dar espaço para que as pessoas exerçam o seu máximo potencial e, dessa forma, busquem sempre ir além e sintam-se realizadas em seus trabalhos.
CM – E como o sr. se enxerga como CEO? Ele tem que ser o norte para os funcionários?
WS – Eu não acredito em “super CEO’ e também não acredito em poucas pessoas fazendo uma empresa. O processo de criação de valor de uma organização é muito mais coletivo do que individual, e a base de tudo é uma relação transparente e de conforto nas relações humanas.
CM – Quais são os resultados que esse tipo de gestão traz?
WS – Na Suzano Papel e Celulose, o resultado desse trabalho foi captado por uma Pesquisa de Engajamento feita recentemente e respondida por 6.800 colaboradores. A pesquisa mostrou que 95% das pessoas sentem orgulho em trabalhar na Suzano e 97% querem fazer mais do que já fazem. É um número expressivo de pessoas que desejam ir além e essa energia é perceptível em nossas florestas, fábricas ou escritórios.
CM – O sr. acredita o perfil do líder mudou de um tempo para cá?
WS – A estrutura hierarquizada que existia no passado acabou. E acredito que quem insistir nessa cultura não vai alcançar o sucesso almejado. O poder não está mais na posição, e sim na capacidade de influenciar outras pessoas. E é dessa forma que conseguimos mobilizar pessoas no processo de transformação.
CM – E quais foram as mudanças mais perceptíveis e importantes?
WS – Anteriormente, as decisões ficavam muito concentradas e isso, na minha opinião, restringia o crescimento. Estamos mudando isso gradativamente, dando às pessoas mais autoridade e mais autonomia para que todos tenham oportunidades iguais de desenvolvimento dentro da companhia. Estamos em um processo gradual de transformação cultural, proporcionando maior nível de empoderamento das bases.
CM – Em quais líderes o sr. se inspira?
WS – As minhas fontes inspiradoras principais são Nelson Mandela e Ghandi. São pessoas que conseguiram transformar a sociedade em que viviam através de uma mensagem positiva. Eles pegaram as dificuldades vividas e as reverteram em coisas positivas para a sociedade. Já entre os líderes empresariais, há muitos nos quais me inspiro e com os quais aprendo. Não significa que eu concorde com todos eles ou com tudo que cada um deles pensa, mas eu aprendo um pouco com cada um e, sobretudo, com a maneira com que eles contribuem com seu olhar de futuro.
CM – Como o sr. enxerga o líder do futuro?
WS – Acredito que, no futuro, cada vez menos, os líderes tentarão assumir a posição de super-heróis. A hierarquia e a definição de poder estão sendo descontruídas e dando espaço a novas relações no trabalho. Cabe aos líderes, e não apenas ao presidente da empresa, promoverem esse movimento e inspirarem suas equipes. O líder do futuro também deve estar preparado para uma questão que aprendi com um amigo, Fabio Barbosa (ex-presidente do Santander e da Editora Abril), que é o fato de hoje não vivermos mais o mundo do “ou”, e sim o mundo do “e”. A empresa tem que ser boa em tudo. E esse pensamento holístico permite fazer muito mais e entender que o papel da empresa não é apenas maximizar lucros, mas também olhar para a sociedade na qual está inserida.
CM – Quais exemplos ele precisará dar?
WS – Ele deve ser exemplo na busca pelo aprendizado constante e no entendimento de novas tecnologias e business models que vão mudar as relações entre empresas produtoras e consumidores.
CM – A tecnologia está transformando até a liderança?
WS – A desintermediação, como vemos com empresas como Airbnb ou Uber, por exemplo, já é uma realidade e aceitar a velocidade com que essas transformações acontecem é fundamental para a definição do business model. Por último, mas não menos importante, o líder deve estar ciente de que a nanotecnologia, a biotecnologia, infotecnologia ou tecnologia da informação e a cognotecnologia vão alterar completamente as relações humanas.
CM – Para finalizar, quais são as características essenciais para um CEO? E os principais desafios?
WS – Um CEO não faz uma empresa sozinho. Não acredito em gestão de uma única pessoa, mas acredito em um trabalho de equipe coeso e alinhado e acredito, também, em uma liderança capaz de gerar energia em seus colaboradores. O CEO deve estar sempre em busca da perfeição em todas as áreas e ter um pensamento que lhe permita quebrar silos e buscar uma constante melhoria para a empresa. A paixão é outro fator essencial para um profissional ser bem-sucedido, independentemente da empresa, do cargo ou da área em que atua.
Para alcançar o sucesso é preciso fazer as coisas com vontade, buscando sempre dar o melhor de si e ir além. E sucesso, para mim, é o sentimento de realização da transformação. É você pensar em alguma coisa que poderia ser diferente, planejar, executar e dar certo. Então o sucesso está no nosso dia a dia, não necessariamente no nosso cargo ou função.
Confira as outras entrevistas do Especial Liderança clicando aqui