O conceito de phygital, uma junção de physical (físico) e digital, é definido pelo uso de tecnologia para fazer a ponte entre os mundos on e offline, com o propósito de proporcionar experiências ricas e interativas ao usuário. Mas como colocar esse conceito em prática?
No ano passado produzimos a exposição Drivethru.art, uma co-realização entre ARCA e Luis Maluf Art Gallery, que ocorreu entre julho e agosto, em um dos momento mais tensos da pandemia até então. Dadas as restrições impostas pelos decretos do governo, exploramos o território phygital com recursos simples e acessíveis, como forma de minimizarmos o risco de contágio pelo manuseio e distribuição de materiais informativos, sem que isso implicasse em qualquer prejuízo para a experiência de visitação. Pelo contrário.
A exposição era formada por obras em grandes formatos de 18 artistas, suspensas nos breezes entre os pilares da ARCA. Como o circuito de visitação era feito de carro e precisávamos contemplar no planejamento da operação as diferenças de tamanho e manobrabilidade entre diferentes modelos, para além da distância com que cada obra seria observada, decidimos utilizar suportes físicos bem legíveis para a identificação das obras e seus autores. Distribuímos totens próximos ao percurso de visitação, marcando o local de parada para observação de cada obra, acompanhado do nome do artista, técnicas utilizadas e dimensões do painel, para além dos patrocinadores e apoiadores da exposição. Cada totem tinha também um número, correspondente à placa fixada ao lado de cada obra para uma rápida identificação.
Em paralelo a isso, desenvolvemos todo o guia de visitação em um hotsite que o visitante acessava ao ler um QR Code na entrada da exposição, logo após ter seu ingresso digital lido por um dos orientadores – tudo sem nenhum tipo de contato. O guia, apresentado nas formas de texto e de áudio, servia tanto ao propósito de enriquecer as informações sobre os artistas e suas respectivas obras como também auxiliar no fluxo de visitação.
Cada áudio continha uma explicação sobre o trabalho de pesquisa do artista e o conteúdo da obra apresentada por ele, com uma duração média de 1:30 minutos. Como o tempo de observação indicado para cada obra era de 2 minutos, o fim do áudio trazia uma pista implícita, sutil e eficiente, de que era hora de dirigir para a próxima parada. Os áudios eram narrados na voz de Luis Maluf, curador da exposição, o que proporcionava aos visitantes um senso de intimidade e proximidade com os temas abordados.
Existe um imenso potencial ainda não explorado no território phygital, que tende a se ampliar ainda mais conforme diferentes wearables como smart watches e smart glasses ganham espaço em nossas vidas ao lado dos já quase onipresentes smartphones. Trouxe este case, contudo, para demonstrar que é possível pensar e criar experiências phygital sem recorrer a dispositivos caros ou tecnologias complexas, usando aquilo que já está à mão e dando foco prioritário à experiência do usuário e a como as ferramentas utilizadas contribuem para torná-la mais fluida e prazerosa. Um ótimo desafio para as mentes criativas nos setores de design de experiências, eventos e comunicação.
Maurício Soares é sócio-fundador da ARCA