É fato que ninguém gosta de ser demitido, especialmente quando se tem dívidas ou contas a pagar – a menos que haja um emprego melhor dentro do planejamento. Contudo, muitas pessoas tiveram que encarar essa situação nos últimos anos, uma vez que o Brasil chegou ao fim de 2016 com 12,3 milhões de pessoas desempregadas.
Para as empresas essa também não é uma situação simples, até porque quem efetua a demissão é uma pessoa – e tende a ser complicado ver a preocupação de pais e mães de família.
Olhando friamente, sabemos que a demissão é um ato jurídico de encerramento de um contrato de trabalho. Contudo, é fundamental considerar os aspectos humanos envolvidos nesse processo e compreender que a demissão não é uma mera comunicação do distrato, mas uma ruptura de laços humanos, sociais e emocionais.
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“A demissão impacta muita gente: quem demite, quem é demitido, quem permanece, a família do demitido e, às vezes, os pretendentes a emprego na organização que demite e aos admiradores da marca”, afirma José Augusto Minarelli, Conselheiro Profissional e Presidente da Lens & Minarelli.
Por isso, surgiu o conceito de demissão humanizada. A ideia é que, feita dessa forma, a dispensa de um funcionário possa ser cuidadosa, explicada, justificada, comunicada com cuidado. As providências da separação e comunicação, nesse caso, são cercadas de respeito, cuidado e jeito.
“Uma comunicação sem considerar os aspectos humanos é incoerente com as boas práticas de gestão de pessoas e tem um potencial para atritos e prejuízos muito grandes”, defende o conselheiro profissional. “A regra para bem demitir é tratar gente como gente – isto é, tratar o demitido do jeito que gostaríamos de sermos tratados”
Liderança
Além disso, Minarelli explica que o momento da demissão é uma oportunidade de empatia que o líder pode exercitar, colocando-se de fato no lugar do outro, entendendo os sentimentos do outro, lembrando de quando também foi sujeito da demissão.
Outra situação que observo com frequência é que muitos profissionais não sabem, exatamente, o motivo pelo qual foram desligados. Portanto, é fundamental a preparação do líder para dizer de forma consistente, objetiva e clara o motivo pelo qual o profissional está sendo demitido.
A demissão humanizada já existe no Brasil?
De acordo com Minarelli, na prática, poucas são as empresas que têm política de demissão e procedimentos-padrão a serem utilizados pelos chefes ao demitir. “Em uma mesma empresa pode haver demissões humanizadas e demissões mal conduzidas”, diz. “Quase sempre, a diferença está no jeito com que o líder trata seus colaboradores – há pessoas sensíveis e insensíveis”.
Porém, como ele destaca, escolas de gestão, de negócios e treinamentos internos raramente contemplam essa responsabilidade do papel de chefe em seus programas ou aulas. “Parece que ignoram que todo chefe, um dia, terá de demitir. Quem não aprendeu a demitir pode cometer erros, pois a demissão, também o impacta na véspera e no dia da comunicação”, defende.
Como aplicar a demissão humanizada nas empresas?
O especialista dá algumas dicas:
1. A demissão deve ser um recurso extremo;
2. A demissão deve ser decidida por um comitê composto pelo chefe imediato, pelo chefe do chefe e pelo profissional de RH;
3. A demissão deve ter um motivo explicável e justificável;
4. A demissão deve ser comunicada pelo chefe imediato, em local fechado, com a informação do término do contrato e do motivo. Deve contemplar, ainda, o reconhecimento pelo serviço prestado, o agradecimento e a oferta de apoio para a continuação da carreira;
5. O demitido deve ter chance de falar com quem quiser e sair pela porta da frente;
6. Os profissionais que permanecem devem ser informados do acontecido, dos cuidados com o seu colega demitido e tranquilizados sobre a inexistência de outras demissões (se isso for possível);
7. Os demitidos devem ser recompensados com alguma gratificação adicional, extensão do seguro de vida e de saúde;
8. Os demitidos devem receber ajuda profissional para procurar um novo trabalho. Esse serviço se chama Outplacement.
Quais ganhos podem haver para as empresas que adotam esse conceito?
1. Reconhecimento pelo público interno e externo como bom empregador;
2. Redução dos riscos de reclamação trabalhista, retaliação comercial, vinganças;
3. Tranquilidade do público interno com o qual a empresa precisa contar;
4. Reconhecimento como praticante de responsabilidade social;
5. Manutenção do bom ambiente de trabalho;
6. Redução do tempo de luto pela saída de algum colega, chefe ou subordinado.
Quais ganhos que podem existir para os profissionais?
1. Uma demissão humanizada dói menos para o demitido;
2. O tempo de luto pela perda do emprego tende a ser menor;
3. Uma demissão pode ajudar o profissional a sair de sua zona de conforto e desenvolver-se;
4. O apoio do serviço de Outplacement, patrocinado pela empresa que demite, ajuda o profissional a pensar na vida, na carreira, a preparar seu projeto de procura, a preparar-se para fazer bem feito seu trabalho temporário de procurar trabalho e a ganhar com a perda;
5. A demissão humanizada pode criar condições para o profissional dar uma guinada na carreira ou iniciar um trabalho por conta própria.