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Efeito “perrengue chique”: o que as cidades estão fazendo para conter excesso de turistas

Efeito “perrengue chique”: o que as cidades estão fazendo para conter excesso de turistas

Aumento do número de viajantes em destinos populares prejudica a experiência do visitante e reduz a qualidade de vida dos moradores. Mas e agora?

Um dos perfis mais divertidos do Instagram nos últimos meses é o @Perrengue_Chique, que mostra turistas mundo afora em situações não muito favoráveis. Atrações lotadas, filas quilométricas para museus e falta de infraestrutura para os viajantes são alguns dos temas que aparecem nos posts. Mas, por trás dos memes, o perfil é um exemplo de como o “overtourism”, ou “turismo excessivo”, em tradução literal, tem sido prejudicial para muitos países e cidades, que agora buscam soluções para grande volume de pessoas em suas atrações.

Segundo a Organização Mundial do Turismo, em 2018 foram registrados 1,4 bilhão de chegadas internacionais de turistas no mundo todo, um aumento de 6% em relação ao ano anterior. Para efeito de comparação, no ano 2000, o volume de chegadas de turistas foi de 680 milhões.

EM 2018 FORAM REGISTRADOS 1,4 BILHÃO DE TURISTAS NO MUNDO TODO

São vários os fatores que levaram algumas cidades ao limite. Do ponto de vista econômico, nunca foi tão barato viajar. As passagens aéreas se popularizaram com as empresas low-cost e a oferta de hospedagem aumentou exponencialmente com a chegada de sites como Airbnb.

Do ponto de vista geográfico, o mundo está mais conectado e as fronteiras cada vez mais abertas, facilitando o trânsito de pessoas entre cidades e países.

Do ponto de vista social, a superexposição de alguns destinos na mídia e nas redes sociais, especialmente no Instagram, geraram um aumento de demanda para atrações que antigamente não tinham tanta procura. É o caso de Dubrovnik, na Croácia, que se tornou um destino altamente procurado após ser usado como locação para a cidade de Porto Real na série Game of Thrones.

turistas

Os problemas do turismo em excesso

O efeito mais óbvio do excesso de turistas em uma atração ou cidade é a queda na qualidade da experiência do viajante. Os hotéis ficam mais caros, os restaurantes mais cheios e a disputa por um lugar para tirar foto mais acirrada.

Mas o turismo em excesso também é um problema para os moradores locais da cidade, que sofrem com o aumento da demanda para transporte público e da inflação para itens básicos, como aluguel, comida e entretenimento, por exemplo.

O turismo excessivo também tem um impacto ambiental. Há mais produção de resíduos e maior consumo de água e energia. Quando o destino envolve a natureza, como praias ou parques, o excesso de gente pode danificar biomas e ecossistemas delicados.

É o caso da ilha de Maya Bay, na Tailândia. A paradisíaca ilha que aparece no filme A Praia, com Leonardo DiCaprio, foi fechada para visitação em 2018 e só deve ser reaberta após a recuperação de seu ecossistema, que foi danificado pelo excesso de turistas nos últimos anos. De acordo com a CNN, a ilha só poderá receber visitas novamente a partir de 2021.

O que as cidades e países estão fazendo para diminuir os efeitos do turismo em excesso?

Alguns destinos populares que vêm sofrendo com o turismo em excesso estão tomando medidas para evitar que a vida dos locais seja ainda mais prejudicada e para conseguir acomodar os turistas com conforto.

Veja abaixo alguns bons exemplos de como as cidades estão se mobilizando para combater o “overtourism”:

Limites de hospedagem em Amsterdã

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Amsterdã sempre foi um destino popular na Europa, mas recentemente o volume de turistas em certas áreas da cidade começou a causar transtornos para a população. Segundo a CNN, é esperado que o número de turistas salte de 18 milhões em 2018 para 42 milhões em 2030, ou mais de 50 vezes a população atual.

Para tentar desde já evitar um colapso na cidade, a prefeitura tomou várias medidas para conter o fluxo de turistas, dentre elas a limitação de aluguel de quartos e casas pelo Airbnb e sites parecidos.

Desde o começo do ano, proprietários que alugam seus apartamentos por curtos períodos de tempo têm um limite de 30 dias de aluguel. Além de diminuir a oferta de hospedagem, o limite visa também evitar uma escalada de preços de aluguel a longo prazo.

A prefeitura de Amsterdã também passou a incentivar a visita a destinos periféricos, criando atrações em regiões menos exploradas da cidade, e proibiu a abertura de novas lojas turísticas no centro.

Numa medida mais radical, autoridades de turismo da Holanda decidiram parar de divulgar externamente o país como um destino turístico.

Segundo relatório Perspective 2030, o foco agora será em “gerenciamento de destino” em vez de “promoção de destino”. O documento também reconhece que a qualidade de vida em Amsterdã será severamente afetada pela “sobrecarga de visitantes” se não forem tomadas medidas para conter o fluxo de pessoas. De acordo com o documento, “o turismo deve sempre servir ao interesse compartilhado de moradores, visitantes e empresas”.

Cruzeiros barrados em Santorini

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Os mega navios de cruzeiro, com capacidade para mais de 3 mil passageiros, são um dos grandes vilões do turismo excessivo. Eles aportam em pequenas cidades, que muitas vezes não têm a infraestrutura para receber tanta gente ao mesmo tempo, e vão embora no mesmo dia. Com isso, os mercados hoteleiros e de restaurantes do local pouco se beneficiam.

Santorini é uma dessas pequenas ilhas gregas, com uma população de 13 mil pessoas, que chegou a receber mais de 10 mil turistas por dia na alta temporada.

Para conter o alto volume de turistas, o governo instaurou, em 2017, um limite para o número de navios que aportam na cidade diariamente, além de restringir a entrada de turistas para até 8 mil pessoas por dia.

“A rede elétrica e o suprimento de água estão no seu limite. O lixo dobrou em cinco anos. Se não controlarmos as multidões, o turismo nos arruinará”, disse o prefeito de Santorini, Nikos Zorzos, ao The Washington Post.

Ingressos limitados em Machu Picchu

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Machu Picchu, no Peru, sempre foi um destino importante na América Latina. Nos últimos anos, no entanto, o número de turistas no local chegou a 1,4 milhão por ano e até 2017 era possível caminhar por todo o sítio arqueológico sem supervisão, o que estava deteriorando as trilhas e ruínas.

Para evitar novos danos, o governo peruano passou a limitar os turistas a duas entradas programadas por dia. Além disso, os grupos devem ser conduzidos por guias aprovados e trilhas específicas nas ruínas foram estabelecidas para proteger o sítio arqueológico.

No Butão, menos é mais

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O Butão fica aos pés do Himalaia e é próximo de países que são muito visitados por mochileiros, como Índia e Tailândia. Mas, no lugar de se aproveitar dessa proximidade para atrair hordas de mochileiros, o Butão preza por ser um destino turístico de “alto valor e baixo impacto”.

Para ter autorização para visitar o país, é necessário garantir um gasto diário de US$ 250 por pessoa, que pode ser com hospedagem, refeições ou passeios. Esse valor é muito acima do que é gasto normalmente por mochileiros ou por turistas mais econômicos. Com essa medida, o Butão faz com que menos pessoas visitem o país, mas invistam mais na economia local.

Além de estipular um gasto mínimo diário para os turistas, o governo do Butão apenas concede o visto de turista para aqueles que contratam um pacote de viagem com uma agência de turismo credenciada pelo governo.

“Por causa do turismo de alto valor e baixo impacto, somos capazes de receber turistas de uma maneira que contribua para o desenvolvimento socioeconômico da nação. Ao mesmo tempo, conseguimos preservar nossos ativos culturais e naturais”, explica Damcho Rinzin, do Conselho de Turismo do Butão, em entrevista à Condé Nast Traveler.


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