O tempo cada vez mais é compreendido como um ativo valioso, e é justamento com ele que mais ganharemos quando a revolução do automóvel sem motorista for uma realidade. Um estudo feito pela consultoria de negócios e tecnologia Deloitte estimou como os gastos de se ter, manter e usar um carro, incluindo o valor do tempo, devem mudar conforme a tecnologia avança. A conclusão a que chegou é que o modelo tradicional de transporte – o nosso, em que as pessoas adquirem um carro próprio e o conduzem – pode ser até três vezes mais caro do que o futuro similar autônomo.
Pelo estudo, feito com base em dados do mercado americano, o custo médio hoje por pessoa para se locomover em transporte individual é de US$ 0,97 por milha rodada (ou a cada 1,6 quilômetros). No outro extremo,o transporte por meio de um carro sem motorista e compartilhado (em modelos similares ao do Uber e de aplicativos de carona) custaria apenas US$ 0,31.
Para fazer as contas, a consultoria precificou o valor do financiamento do veículo, depreciação, seguro, combustível e o tempo do passageiro. Este último responde por quase metade dos 97 centavos gastos hoje com transporte individual, e é reduzido a zero na outra ponta. Na prática, isso significa que o tempo que se perde à frente da condução pode ser usado produtivamente em outras coisas quando nos livramos dela.
“O transporte do futuro será mais seguro, mais rápido e mais barato”, diz David Smud, diretor de tecnologia e mídia da Deloitte nos Estados Unidos. “É claro que não será em cinco anos que isso acontecerá e que só veremos carros sem motoristas andando pelas ruas; mas há hoje uma grande guinada nesse sentido e ela vai revolucionar a maneira como nos locomovemos.”
Smud esteve no Brasil nesta semana, onde participou da feira de tecnologia Futurecom, em São Paulo, e falou sobre como a tecnologia ligada a veículos deve revolucionar a mobilidade urbana e criar oportunidades para diversas indústrias.
Rumo à autonomia
Smud explica que os dois tipos de locomoção são extremos de um processo de evolução que acontecerá aos poucos. Ele consiste em quatro etapas: a primeira, e atual, é a do carro como bem privado e com motorista. Em um segundo momento, a tendência é que os carros, ainda dependentes de motorista, sejam compartilhados. É o que já esboçam aplicativos como Uber e os de caronas, mas também pode incluir automóveis comprados e utilizados em conjunto por mais de uma pessoa ou família. Neste caso, o preço da viagem por pessoa cai dos US$ 0,91 para US$ 0,63.
Em um terceiro cenário, os carros autônomos ou semi-autônomos se popularizam, mas ainda continuam como bem privado (neste caso, o gasto por milha é de US$ 0,46). Por fim migraremos para este mundo onde os carros serão totalmente autônomos, e totalmente compartilhados.
Futuro de oportunidades
Além do tempo livre para outras atividades durante a viagem, a queda de preços também considera novos níveis de eficiência energética a serem alcançados, migração da gasolina para baterias elétricas e veículos menores e com materiais mais leves, o que também poupa combustível.
“Estamos à beira de uma grande revolução e isso abre uma gama de oportunidades para diversas indústrias além da automobilística”, disse Smug, citando setores como telecomunicações e seguradoras. “Fabricar um carro será sobre design, sobre sistemas operacionais, inteligência artificial. A indústria automobilística é hoje um mercado de US$ 2 trilhões; isso sigfica que são US$ 2 trilhões para serem redistribuídos por vários outros setores.”