Não é de hoje que as pessoas criam sistemas, línguas para poder se comunicar mais livremente e burlar algum grau de controle. Crianças já faziam isso com a língua do pê. Vo-po-cê-pê se-pe lem-pem-bra-pra? Usuários do TikTok também estão criando a sua, para escapar da moderação de conteúdo da plataforma e não ter seus conteúdos banidos ou com visibilidade reduzida. A estratégia, esse novo idioma, tem sido chamado de ‘algospeak’, combinação de algoritmo e falar, em inglês.
Para contornar as regras de moderação, os usuários têm substituído ou ‘reescrito’ palavras para que os temas de seus vídeos não caiam na malha fina do TikTok. As diretrizes do TikTok não listam palavras proibidas, mas algumas coisas são consistentes o suficiente para que os criadores decidam evitá-las, e muitos compartilham listas de palavras que acionaram o sistema. Como funciona? Você já deve ter visto uma berinjela para designar o órgão sexual, ou o uso de letras no meio das palavras para embaralhar o algoritmo.
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A tática também serve para evitar engajamento com palavras-chave ou nomes, e não impulsionar um assunto. A tr0ca de letr4as por números, por exemplo, atrapalha o SEO, a otimização dos mecanismos de busca do Google, o SEO. Essa estratégia foi batizada de “Voldemorting”, em referência ao personagem da saga Harry Potter, a quem os personagens se referiam como “aquele que não deve ser nomeado”.
Furando a cerca da moderação
Com a ascensão das redes sociais vieram os influencers, o social marketing, mas também os discursos de ódio online, as fake news. Os algoritmos são, de uma certa forma, um avanço das iniciativas e tecnologias para monitorar o conteúdo debatido nas plataformas. E também para amplificar assuntos e personalidades que estão dizendo o termo que mais funciona.
Com isso, os algoritmos de moderação de conteúdo passaram a ter cada vez mais impacto em como as mensagens são vistas e amplificadas. Essa nova forma de linguagem, algospeak, nada mais é que uma forma de se comunicar antenada à isso. E que também serve para conseguir evitar que algumas discussões reverberem à revelia das big techs que controlam as mídias sociais.
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Panoramic em vez de pandemic. Cornucópia em vez de homofobia. Leg Boots em vez de LGBT são alguns termos que o “New York Times” encontrou no TikTok. Segundo o jonal, o medo de que tópicos sexuais desencadeiem problemas levou alguns criadores a usarem “boot Leg” para L.G.B.T.Q. e “cornucópia” em vez de “homofobia”. Sexo tornou-se “seggs”. Assim como maneiras de burlar referências à Covid-19 para que os conteúdos não sejam confundidos com desinformação.
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O aumento do uso desses neologismos indica, para alguns usuários, que a moderação do TikTok é muito rígida. Ao mesmo tempo em que a empresa afirma que é necessário ser firme em uma comunidade online livre, uma porta-voz do Tiktok afirmou ao NYT que os usuários podem estar exagerando na crítica, apontando que há vários vídeos populares que falam de sexo de várias formas, desde esquetes de humor à vídeos didáticos de como falar sobre sexo com crianças.