A tecnologia RFID (Radio-Frequency Identification) não é mais uma novidade no Brasil, mas não são muitas as varejistas que a adotaram em função dos investimentos que precisam ser feitos em sistemas e etiquetas, ainda considerado alto por alguns varejistas.
Um bom exemplo da revolução que a tecnologia pode gerar pode ser observado nas duas lojas da Brascol, atacadista de confecções e produtos infantis, na região do Brás, em São Paulo. Com 25 anos de estrada, e acostumada a vender em grandes quantidades, a empresa levava 50 minutos para conferir e passar 280 peças no caixa. Contava com 16 check outs com dois funcionários cada; um para conferir os produtos e o outro para registrar o código de barras, mas ainda assim era um processo moroso.
Com isso, todos os dias longas filas de clientes se formavam. Alguns desistiam, já os clientes antigos ? grande parte de outros Estados e que vêm a São Paulo para comprar mercadoria para seus estabelecimentos ? iam embora e aguardavam a contagem de casa. Nesses casos, a Brascol ligava para o cliente, passava o valor e negociava, de longe, o pagamento e envio. O cenário era complexo. A empresa contava com grande espaço e volume de produtos, clientes fiéis, mas não tinha efi ciência no check out.
Fornecedor também entra no projeto
Para resolver a espera e deixar de perder negócios, a atacadista investiu no sistema de etiquetas de RFID. A primeira loja a implantar o sistema, em julho do ano passado, fica no shopping Mega Polo Moda, no Brás, e conta com cinco mil metros quadrados. 1,5 milhão de peças foram etiquetadas com RFID, isso porque a empresa identificou também os produtos que ainda estavam nos fornecedores e que seriam encaminhados para a loja.?Como o grupo conta com 600 fornecedores ativos, o processo foi implantado em 600 fábricas, o que se iniciou um ano antes?, conta Sérgio Gambim, analista de projetos da iTag Tecnologia, responsável pela implantação do projeto.
Além das etiquetas, foram instalados na loja seis portais de leitura de RFID ? uma espécie de caixa digital. Quatro deles são check outs, um é utilizado na entrada e outro entre os corredores para conferência de preço durante a compra.
Sem tirar as compras do carrinho
, Outra vantagem é que agora não é preciso tirar os produtos do carrinho para fazer a contagem. O funcionário coloca o carrinho cheio de mercadorias dentro do portal, fecha e inicia o sistema para fazer a contagem. Em menos de cinco minutos, o processo é finalizado.
Apesar do trabalho de adequar o novo sistema aos processos já existente, todos, inclusive os funcionários, comemoram. Hoje, com o RFID, são necessários 16 minutos para passar uma compra média (o que antes levava 50).
SÉRGIO GAMBIM, DA iTAG
?Com a entrada do RFID, paramos de usar o código de barra e assim não tem mais trabalho manual?
A gerente Nina Kubagawa afirma agora ter mais segurança e rapidez para trabalhar. Além da agilidade nos check outs, que tem gerado satisfação do cliente, ela levanta outros pontos: ?O principal é ter um estoque sadio. Cada produto é cadastrado pela cor e tamanho, o RFID é único, não há duplicação de produto. Também passamos a ter mais segurança da mercadoria dentro da loja porque na saída há sistemas que reconhecem o RFID que não passaram pela expedição. Além disso, diminuiu o custo com a equipe, uma vez que o trabalho que era realizado por três pessoas, hoje é realizado por apenas uma?, diz. A empresa conta hoje com quatro check outs com um funcionário cada e mais quatro que conferem e separam as compras para envio ou entrega.
Outros ganhos
Antes do RFID, a Brascol também tinha perdas maiores com produtos em que a equivalência entre o código de barra do fornecedor não era feita corretamente na chegada à loja (ocasionando precificação errada). A empresa também estava vulnerável a erros do fornecedor, que poderia mandar produtos a menos ou etiquetados de forma incorreta e isso passava despercebido, uma vez que em função do grande volume de mercadorias, a checagem na entrada era feita por amostragem.
?Uma calça poderia vir etiquetada como jaqueta e uma jaqueta como saia. Na hora do movimento não é possível perceber ou checar tudo. Com a entrada do RFID paramos de usar o código de barra e assim não tem mais manipulação manual, tudo é registrado no sistema e cada produto tem uma etiqueta individual?, afirma Gambim. Agora, quando o pedido chega à loja já tem o RFID e a leitura é feita por um portal que aponta possíveis erros e calcula todas as etiquetas em poucos minutos.
Com isso, diminuiu-se o número de produtos parados. Antes, os produtos, ao serem entregues, poderiam ficar estocados por até dois dias aguardando a contagem. Hoje a mercadoria é conferida em minutos e já entra para a área de venda. ?O estoque baixou?, revela o analista de projetos da iTag Tecnologia.
Uma vez que o erro de registro de produtos é menor, diminuíram também as reclamações dos clientes que levavam mercadoria trocada ou que pagavam a mais em função do erro de equivalência, segundo Nina, gerente da Brascol.
Com um portal dentro da loja para simples conferência, os clientes têm a possibilidade de checar o valor total do pedido antes de passar no caixa, possibilitando ajustes. Antes do RFID, levava-se tanto tempo para fazer essa prévia que alguns clientes desistiam e acabavam saindo com menos produtos que o idealizado.
Investimento
Nina explica que o investimento da empresa foi alto, e que hoje, em função do volume que possui na loja, o mais custoso para ela ainda são as etiquetas. Entretanto, ela avalia que irá recuperar o investimento em um ano. ?Quanto mais as empresas adotarem a tecnologia, mais barata ela ficará?, diz.
Em janeiro, o sistema foi implantado na outra loja da atacadista, com 25 mil metros quadrados e que conta com três milhões de peças ? juntando as duas lojas, há um giro de 1,6 milhão de peças por mês. ?No Brasil, o RFID ainda está muito no meio acadêmico, mas os benefícios dessa tecnologia ainda não chegavam à ponta. Com um projeto desse porte vemos as empresas tirarem proveito da tecnologia?, finaliza Fabio de Oliveira, gerente da Zebra Technologies, fornecedora da iTag.