A Era do Dialogo

À vista é igual ao parcelado em 12 vezes sem juros?

Como apontou Amaury Oliva, diretor de Sustentabilidade, Cidadania Financeira, Relações com o Consumidor e Autorregulação da Febraban, o evento A Era do Diálogo 2024 reuniu em um de seus painéis três paixões dos brasileiros: o parcelado sem juros, o cartão C&A e o carnê das Casas Bahia.

O painel “À vista é igual a 12 parcelas: quem paga o juros?”, mediado por Oliva, se propôs a discutir os desafios, riscos e oportunidades que a modalidade de pagamento gera para as empresas, os consumidores e para o sistema financeiro do país.

Para Filipe Matzembacher, diretor de crédito e operações da C&A, a história do parcelamento sem juros nasce, não de um desejo, mas de uma necessidade do consumidor. “A renda média do brasileiro é de R$ 3 mil, enquanto a do americano é de US$ 6,500. Como nossos bens de consumo são, em grande parte, importados, ou têm componentes importados e montados por aqui, acabam encarecendo. E as pessoas se veem na necessidade de parcelas suas compras para alcançar seus sonhos”.

O executivo resgatou que o país se adaptou a diferentes formas de pagamento – como o cheque pré-datado, por exemplo – para criar soluções para esse mesmo problema. Até que, na pandemia e no pós-pandemia, surgiu uma nova prática de, além da oferta do parcelado sem juros, pagamento à vista com um pequeno desconto – especialmente, no Pix.

“O dinheiro tem um custo ao longo do tempo, e quando a empresa dá um desconto na venda à vista, repassa o desconto dessa antecipação ao consumidor”, disse. “A linha de receita dos bancos era a anuidade dos cartões, e com a transformação digital, quase nenhum banco hoje tem anuidade, e parte do custo era pago por outras receitas. Assim, diminuiu o spread e o apetite para risco. Então, o pedido dos bancos é de redução do parcelado sem juros e substituição pelo parcelado com juros, de forma a buscar um melhor equilíbrio e, assim, possibilitar uma maior oferta de crédito”.

Já o Grupo Casas Bahia fez história ao lançar seu carnê que, como apontou Edinelson Santos, diretor de gestão e atendimento ao cliente, deu acesso a crédito a muitos consumidores, uma vez que se trata de um público com uma renda limitada, que representa 70% do total de clientes.

“Existe uma diferença entre vestuário e eletrodomésticos”, explicou durante o painel. “Não é um produto com recorrência, então é preciso uma condição de pagamento que caiba no bolso do cliente. A maioria do nosso público é feminina, líder de família, com cerca de dois a três salários-mínimos. A dinâmica familiar muda se essa cliente consegue comprar uma geladeira e conservar alimentos. Com o parcelado sem juros, conseguimos aumentar o acesso a crédito para os consumidores de baixa renda”.

Apesar do cartão de crédito ser uma forte modalidade de pagamento na marca Casas Bahia, Santos aponta que o carnê ainda é um ativo bastante presente na companhia – agora em sua versão digital. “A Casas Bahia caminhou com todos esses produtos financeiros, então quanto mais fácil fica os juros, melhor fica a taxa para o cliente”.

Soluções que cabem no bolso do cliente

Tanto o parcelado sem juros quanto a solução de pagamento à vista com desconto – que, até poucos anos, era uma prática proibida no país, uma vez que acarretava numa diferenciação de preços – surgiram para resolver uma necessidade do consumidor. “Há um público que tem condição de pagar à vista e, para esses clientes, é possível oferecer um incentivo financeiro na forma de desconto”, apontou Matzembacher. “Assim, ele tangibiliza na hora que está fazendo um bom negócio, enquanto a empresa se beneficia com uma antecipação. É um ganha-ganha”.

O executivo ainda aponta que o Open Finance, do Banco Central, dará mais visibilidade na criação de soluções customizadas. “Antigamente, conceder crédito era muito diferente de hoje. Há 15 anos, bastava checar precedentes. Hoje, implica em nível de fatura, rotatividade, pontuação no modelo de crédito e mais. Conseguimos ser muito mais assertivos”.

Como destacou Amaury Oliva, o Brasil tem um grande desafio de endividamento. “Há um indicador de saúde financeira que reflete essa realidade. Há um questionário da Febraban, o Índice de Saúde Financeira do Brasileiro, que qualquer consumidor pode responder, e um dado choca: 33% dos entrevistados declaram que gastam mais do que ganham. Isso, de imediato, é um sinal vermelho”.

De olho nos riscos de endividamento dos consumidores, o Grupo Casas Bahia possui políticas de crédito que limitam a oferta baseadas na renda do cliente. Assim, mesmo que o consumidor queira uma oferta maior de crédito, as marcas não podem autorizar. Por outro lado, conforme a pessoa diminui ou quita suas dívidas, novos créditos são disponibilizados. “Também praticamos a recuperação e a negociação de dívidas para trazer o cliente de volta e para que siga comprando nas nossas lojas”, explicou Santos. “Se a inadimplência acontecer, estamos preparados para ajudar o cliente a sair dessa situação”.

De olho no comportamento

Para Filipe Matzembacher, há um desafio para as soluções financeiras dentro de empresas de varejo: entender muito bem qual é o core do negócio e o objetivo da área. “Há um tempo, todo mundo queria ser fintech. Hoje, enquanto financeira, existimos para viabilizar os sonhos dos clientes da C&A”, afirmou. “Não queremos competir com neobancos, mas ajudar o consumidor a ter a melhor experiência na C&A. É uma sinergia cada vez mais próxima entre esses dois mundos”.

Edinelson Santos acrescenta que é necessário entender o comportamento do cliente para oferecer uma solução e experiência cada vez mais personalizada e eficiente. “Mesmo que um consumidor não utilize o carnê, temos outras soluções de pagamento. Além disso, estamos atento às suas intenções de compra, e o marketing é capaz de entregar aquilo com uma oferta diferenciada e um bom negócio”.

Julia Fregonese

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Julia Fregonese

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