O J.P. Morgan acaba de divulgar o Principal Discussions 2025, um dos relatórios mais completos sobre a forma como as famílias mais ricas do mundo constroem, preservam e redefinem riqueza. O estudo reúne conversas francas com 111 bilionários, com $500 bilhões de patrimônio líquido total, diretores de 28 países e mais de 15 setores, oferecendo uma visão rara sobre liderança, investimentos, filantropia e legado.
Se a imagem tradicional da riqueza é associada ao acúmulo de capital, o estudo mostra uma mudança nessa percepção. Mais de 90% dos entrevistados afirmam que o tempo, a saúde e os relacionamentos – e não o dinheiro – são as verdadeiras medidas de uma vida significativa. E quase 85% definem sucesso como a capacidade de ajudar os outros, liderando com criatividade e valores.
Andrew L. Cohen, presidente executivo global do J.P. Morgan Private Bank reforça essa mudança de perspectiva. “Os participantes da pesquisa nos lembram que prosperidade vai muito além do capital financeiro. Suas perspectivas nos desafiam a repensar o significado de construir riqueza duradoura, colocando propósito, conexão e legado no centro dessa jornada.”
Construir riquezas é também navegar entre as tensões geopolíticas. Elas despontam como principal risco para 63% dos entrevistados. Em suas visões, os conflitos globais, a volatilidade dos mercados, as mudanças climáticas e o impacto da tecnologia formam um conjunto de pressões que afetam famílias, negócios e comunidades. Além disso, moldam decisões de investimento e planejamento de longo prazo.
No entanto, a resposta é pragmática, não reativa: diversificar a exposição, fortalecer seus negócios e contar com a expertise institucional para interpretar as mudanças políticas. Em uma era em que a polarização política impulsiona ciclos econômicos mais acentuados, a adaptabilidade tem se mostrado essencial, além de tornar-se uma forma própria de resiliência.
IA, com entusiasmo e cautela
A Inteligência Artificial está integrada tanto à vida pessoal quanto aos negócios dessas famílias. Segundo o relatório, 79% usam IA no cotidiano, para pesquisa, redação, planejamento de viagens e até atividades criativas. No ambiente empresarial, 69% recorrem à tecnologia para análise de dados, planejamento estratégico e eficiência operacional, com relatos de economia de custos, como a redução de despesas jurídicas via relatórios automatizados.
A maioria dos bilionários alega que entender a IA deixou de ser opcional e tornou-se essencial para se manter à frente da concorrência.
Embora muitos se mostrem entusiasmados com o potencial da IA para ganhar tempo e apoiar decisões melhores, outros mantêm cautela, reforçando a importância do julgamento humano.
Cohen comenta: “A IA está abrindo novas portas para as famílias e seus negócios, mas o verdadeiro sucesso está em equilibrar inovação e discernimento. A tecnologia é uma ferramenta poderosa, mas são os valores e o julgamento humanos que geram impacto duradouro”.
Paixão se torna estratégia
O estudo revela uma expansão dos investimentos em ativos alternativos. Times e arenas esportivas se destacam, sendo que 34% das famílias têm participação nesse tipo de ativo. A escolha vai além do retorno financeiro; representa, muitas vezes, valores pessoais e conexão com comunidades.
O interesse também cresce em arte (23%) e automóveis (10%), ativos que tradicionalmente simbolizam prazer, mas que agora ganham relevância como instrumentos de liquidez e planejamento.
As famílias buscam retornos financeiros e significado, provando que paixão e propósito são tão importantes quanto lucro na gestão de patrimônio atual. Cohen acrescenta: “A posse evoluiu de hobby para negócio sofisticado e uma forma de unir gerações, oferecendo retorno financeiro e impacto social.”
Filantropia estruturada e legado em evolução
A construção de legado aparece como um dos pilares centrais das famílias bilionárias. Mais de 70% contam com uma equipe dedicada para garantir que suas iniciativas filantrópicas sejam responsáveis, estruturadas e de impacto. “As famílias mais duradouras lideram com propósito e princípios. Elas sabem que a verdadeira riqueza está nos valores que transmitem e no impacto que geram”, diz Cohen.
Na América Latina, essa visão também orienta o planejamento das grandes fortunas. “A riqueza familiar representa mais que herança – é um legado em evolução”, afirma Natacha Minniti, head da 23 Wall International e co-head Global de Family Office Practice do J.P. Morgan Private Bank. Segundo ela, a região reúne 75% de famílias que herdaram sua fortuna e 25% que a construíram do zero – todas enfrentando o desafio de equilibrar tradição e inovação.
Minniti destaca ainda as preocupações dominantes. “Cibersegurança e riscos geopolíticos estão entre as principais preocupações dos líderes latino-americanos. As famílias estão adotando uma postura proativa, investindo em IA e resiliência, sem perder de vista os valores e relacionamentos que sustentam seu legado.”





