O verso do metaverso e o mundo ao avesso
- Por Roberto Meir
- 5 min leitura
Depois de passarmos por dois anos de reclusão, em que tivemos a limitação de convívio, voltamos à liberdade de confraternizar, de viajar, nos reunir e abraçar um ente querido. Porém, nos deparamos com um novo modismo irreal ou surreal. O metaverso é a mais recente e audaciosa criação para exterminar o nosso exíguo tempo e corromper, mais ainda, as nossas mentes com uma realidade que nada tem de real. De uma coisa temos certeza: essa “maravilha” vai desviar bilhões de dólares para esse “novo território inexplorado”.
Esse novo ambiente está seduzindo as pessoas com as suas maravilhas e as suas infinitas possibilidades. É evidente que, quando estamos diante do lançamento e da construção de uma inovação do calibre dessa tecnologia milionária, todos querem ser os pioneiros. Mas, e o avesso do metaverso? Estamos diante de mais uma poderosa ferramenta para a fuga da realidade que fomenta ainda mais a miopia global diante de tantos desequilíbrios e desigualdades já existentes e que se avolumaram após a pandemia. E a irracionalidade dos preços de imóveis virtuais?
Estamos diante de um condomínio virtual, uma terra sem dono, que produz o milagre da multiplicação de pixels em NFTs monetizáveis pelos incautos de plantão. O metaverso terá um Banco Central regulador? Ele será independente ou não? Como serão as transações e as moedas pelo metaverso? Como será o lucro auferido nas diversas transações? Quem será o juiz? Essa realidade virtual espontânea, que está sendo criada, virá também com os mesmos padrões que formataram o ambiente democrático da vida real.
Essas são apenas algumas questões que vêm à tona quando se verifica o poder trilionário deste novo mundo inexplorado, isso ao mesmo tempo em que o mundo real está caótico.
Afinal, temos os paradoxos da realidade humana, tais como a pobreza extrema e uma guerra típica do século 20 nesse cenário. Isso é real – não tem nada de game – e tem gerado reflexos econômicos em todos os continentes. Bem que a guerra poderia estar sendo feita no metaverso irreal e bem longe do mundo real, ceifando vidas e sonhos.
A Era do Paradoxo nos embriaga com toda a sorte de inovações e facilidades provocadas por especialistas no desenvolvimento de soluções tecnológicas e, ao mesmo tempo, o passado nos atormenta, insistindo em se fazer presente, inflacionando commodities, alimentos e bens de consumo, trazendo o dragão da inflação para os quatro cantos do mundo. Mas, na visão das manipuladoras big techs, tudo isso fica em segundo plano se você passar o seu dia no seu smartphone deleitando-se com um mundo todo irreal, que a pseudogratuidade do acesso pode proporcionar para os manipulados de plantão.
O ponto crucial é até onde vai a hipnose coletiva, que já gasta boa parte do seu tempo em jogos e games alheios aos acontecimentos reais que atingem a todos? Uma parcela perde motivação nas conexões humanas, ao mesmo tempo em que testemunhamos a volta ao convívio, às conexões, aos eventos, às baladas e à vida. Será uma dicotomia contemporânea?
Mas por que o ambiente virtual pode ser mais interessante que o real? A quem interessa todo esse movimento? Inevitavelmente, faço uma analogia ao mau uso das redes sociais.
TEMOS OS PARADOXOS DA REALIDADE HUMANA, TAIS COMO A POBREZA EXTREMA E UMA GUERRA TÍPICA DO SÉCULO 20 NESSE CENÁRIO. ISSO É REAL – NÃO TEM NADA DE GAME – E TEM GERADO REFLEXOS ECONÔMICOS EM TODOS OS CONTINENTES. BEM QUE A GUERRA PODERIA ESTAR SENDO FEITA NO METAVERSO IRREAL E BEM LONGE DO MUNDO REAL, CEIFANDO VIDAS E SONHOS
Essa mistura de real e virtual, em que tudo se confunde e se dilui, induz à formação de uma sociedade cada vez mais focada em trivialidades, sem valores, na qual tudo é efêmero.
Com os ânimos à flor da pele em todos os lugares do mundo, as pessoas acabam se fechando em guetos nos quais as ideias não são trocadas e não há possibilidade de discordância. E detalhe: isso está acontecendo nos mundos real e virtual.
Essa polarização e alienação são um legado nocivo das trilionárias big techs AMAMA – Apple, Microsoft, Amazon, Meta/Facebook e Alphabet/Google. Elas roubaram e continuam a extorquir o nosso tempo, usam os dados de todos – clientes ou não – de forma desigual e se nutrem de informações privilegiadas de outro competidor, que hoje beira a insignificância. É só lembrar que o Instagram foi vendido pela bagatela de US$ 1 bilhão justamente para o Facebook.
As redes sociais vivem da discórdia. Em vez de promoverem e incentivarem a liberdade de expressão com suas críticas, autocríticas e contrapontos, deveriam ser designadas como os antagonistas, detratores, fomentadores da polarização, distanciamento e cancelamentos entre as pessoas. Será o metaverso mais um processo de continuidade dessa alienação?
Quem sabe os bons ventos do liberalismo possam criar uma nova proposta de agenda futura inspirada pelo genial Elon Musk, disparado o maior empreendedor e visionário deste século.
A recente compra do Twitter por US$ 44 bilhões justamente pelo mais criativo dos humanos reforça a esperança de uma transformação do monopólio das redes sociais e seus algoritmos da discórdia. Que seja dado o primeiro passo para resgatar a liberdade de expressão, sem ódio, sem polarizações, sem cancelamentos, e que toda a discussão acalorada termine onde se começa um bom relacionamento: com um bate-papo entre amigos. Isso é real, não é fake, tampouco game e muito menos metaverso.
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