/
/
/
/
/
A inovação que tememos é uma história mal contada

A inovação que tememos é uma história mal contada

Yuval Noah Harari, o historiador pop, vai ao SXSW e revela por que temos medo da era digital

Da imprensa escrita às vacinas, da luz elétrica à inteligência artificial, a chegada de tecnologias transformadoras e pivôs de inovações em série foi recebida, ao longo da história, com admiração, mas também com medo e rejeição. Muitos dos maiores inventores da história foram considerados hereges – o arquétipo do cientista louco existe por essa razão. Por que o novo ainda nos assusta? O que é necessário para aceitarmos as ideias transformadoras? Como o progresso científico sem precedentes para fornecer vacinas contra a COVID-19 pode ser olhado sob essa perspectiva? Qual é o papel da desinformação na formação de nossos medos? Como podemos garantir que os inovadores considerem as questões éticas, para que os resultados possam levar à melhoria das pessoas e do planeta? O que os inovadores podem aprender com os artistas e criadores de ficção?

Essas são algumas das questões que Yuval Noah Harari, o historiador israelense que se tornou pop por conta de best sellers como “Sapiens e Homo Deus”, debateu com Mayim Bialik, (atriz da série Big Bang Theory e PhD em neurociência) e Niko Woischnik, Fundador da Tech Open Air no SXSW Online.

Mayim é uma cientista, uma mulher cientista com toda a carga de pressupostos que essa condição traz. “Há pessoas problemáticas em todas as áreas do conhecimento e todas as atividade, essa visão não me surpreende”, afirma a cientista. Yuval, por sua vez se diz uma pessoa que tem preferência muito maior por séries e filmes do que romances literários. “Somos animais que precisam de histórias. Somos contadores de histórias desde a origem. E o vídeo é uma plataforma muito melhor para contá-las.”

Após essa breve contextualização, Niko Woischnik, que mediou a conversa, abordou os efeitos das transformações da pandemia em nosso comportamento, particularmente as inquietações que essas muitas mudanças geram. Para o historiador israelense, mudanças são sempre desconfortáveis. A história das revoluções é uma saga de desastres que sempre trouxeram desgraças e infelicidades e por isso queremos sempre preservar o que conhecemos.

“Muitas das grandes revoluções que estudamos atualmente, normalmente refletem a visão dos vencedores, das lideranças políticas. A revolução cultural da China, por exemplo, provocou fome e sofrimento imenso para a população”, destaca Yuval. Para ele, novas ideias, novas tecnologias trazem apreensão e por isso são difíceis de aceitar.

Em uma visão neurocientífica, a disciplina de formação de Mayim Bialik, nosso entendimento do mundo, nossas respostas para o que acontece à nossa volta, nossas reações enfim, demonstram pressupostos cristalizados que evitamos refutar ou confrontar. A PhD conta que em sua infância, em uma família modesta, houve resistência para adotar aparelhos como o microondas por exemplo. Transportando para a nossa era, é natural, diante da infodemia existente, aceitar inovações e a ascensão das tecnologias baseadas na exponencialização. Elas representam abstrações muito distantes de nossa vida real.

O poder das histórias

Yuval diz que a verdade por si só, jamais uniu pessoas. O que une e agrega as pessoas em torno de uma ideia é a ficção. O poder das narrativas demonstra como nossas faculdades críticas, o funcionamento de nosso cérebro escolhe, seleciona o que faz sentido para nós. Normalmente, a verdade não faz sentido. Ela choca, contradiz nossas crenças e causa estranhamento. “’Fake news’ são informações também. A história mostra que sempre houve livros e artigos conspiratórios, sobre bruxas, magia negra, derivadas da adoção da tecnologia representada pela criação da imprensa. Assim, as ‘fake news’ sempre existiram e sempre ganharam adeptos”, observa o especialista.

Há muita complexidade na avaliação de julgamentos, compreender o que significa reprimir a lógica, a perspectiva realista dos fatos. A maioria das pessoas avalia os fatos a partir de seus construtos sociais, culturais, seus pressupostos, o que inibe um pensamento crítico efetivo. Mesmo pessoas que aparentam ser extremamente racionais muitas vezes renunciam a pesquisas, a buscar informação de vários ângulos e simplesmente adotam pressupostos acerca das notícias e das informações que recebem.

É importante distinguir o cérebro da mente. A mente é um produto da atividade cerebral e sofre as pressões da sociedade, da comunidade e nossa habilidade de filtrar essas influências para permitir avaliações mais isentas e racionais é extremamente complicado. A cada dia, traders monitoram índices e a compra e venda de ações, com decisões tomadas a cada instante. Será possível que um trader consiga adotar um comportamento calculista, frio em meio às dinâmicas de mercado e à quantidade de informação recebida minuto a minuto?

Antivírus para a mente

Esse contexto levou a discussão para o campo da adoção ou recusa das vacinas contra Covid-19. Mayim Bialik produziu um vídeo para compreender as razões que levam pessoas a evitarem vacinas. “Está tudo certo em pessoas serem céticas quanto ao efeito das vacinas, tudo bem em não acreditarem nos componentes farmacêuticos, mas tudo errado quando elas se recusam a debater, exercer o contraditório e reagir de forma violenta”, diz a atriz. São os paradoxos de uma era onde democracia convive com intolerância, e que motiva reações incrivelmente exageradas. As tecnologias de comunicação de massa permitiram disseminar músicas, ideias, opiniões políticas e agora, essas tecnologias estão completamente acessíveis, inclusive para espalhar o confronto e preconceitos.

Os algoritmos, de certa forma, permitem recriar os códigos de toda a sociedade, incluindo os princípios éticos que ajudaram a moldar as modernas democracias. O poder dos algoritmos digitais evoluiu tremendamente nos últimos 20 anos, e, apesar disso, esse poder continua dizendo respeito a nós. Nós permitimos que esses algoritmos nos dissessem como clicar em anúncios, como e em quais links clicar. Para Yuval, é necessário criar agora uma espécie de “antivírus” para a mente, uma espécie de biotecnologia que nos ajude a não termos nossos cérebros hackeados.

“Fake news usam nossas fraquezas contra nós, trabalham nossos vieses, compartilham informações que reforçam nossos preconceitos e raivas de modo que nos sentimos irremediavelmente atraídos a adotar essa informação, mesmo que absurda”, diz o historiador. É por isso que precisamos de ajuda para nos proteger dessas novas formas de manipulação.

Riscos sistêmicos

IA, risco nuclear e mudança climática, são os grandes riscos, os perigos sistêmicos que podem arruinar a vida no planeta, na opinião de Yuval Harari. Em sua visão, a evolução humana é irreversível, haverá condições de criar humanos aprimorados, com habilidades preconcebidas por meio de manipulação genética.

A evolução da IA precisa ser discutida e regulada de uma maneira global, uma vez que nenhum país gostaria de ficar para trás ou em desvantagem em um processo de aprimoramento físico e mental impulsionado pela IA. Não há nenhuma articulação nesse sentido na arena global, o que traz riscos reais para a vida no planeta.

A humanidade precisa pensar seriamente em como assegurar crescimento contínuo para todas as nações e para as pessoas. A grande questão é: como incrementar o crescimento econômico sem arruinar o planeta, sem consumir o ecossistema? A tecnologia atual impõe a cada chinês, indiano ou nigeriano trabalhar para consumir todo recurso disponível que assegure o crescimento capaz de sustentar (e manter pacificada) sua população.

Isso nos leva à pergunta inicial: devemos realmente temer a inovação? De que forma podemos manter nossa sanidade mental para evitar a influência da infodemia, das fake news e da ansiedade que nos toma nessa era de mudanças. A estrela de Big Bang Theory mantém um podcast – Mayim’s breakdown – justamente para auxiliar as pessoas a trabalharem suas mentes para que possam se manter saudáveis.

A forma pela qual podemos tornar as inovações mais abertas e acessíveis às pessoas passa pela concepção de histórias inspiracionais, de narrativas bem elaboradas e que mexam com nossos valores mais simples, exatamente como a iniciativa de Maym Bialik em seu podcast. Quanto mais e melhores histórias contarmos, mais poderemos disseminar mensagens otimistas, construtivas e poderosas para engajar toda a humanidade em torno de valores que assegurem nossa perenidade neste mundo.


+ Notícias 

Transformação digital é coisa do passado. Conheça as reais tendências de tecnologia de 2021 

Conheça os principais potenciais da IoT com o aumento da digitalização 

Recomendadas

MAIS MATÉRIAS

SUMÁRIO – Edição 282

As relações de consumo acompanham mudanças intensas e contínuas na sociedade e no mercado. Vivemos a era do pós-consumidor, mais exigente e consciente e, sobretudo, mais impaciente, mais insatisfeito e mais intolerante com serviços ruins, falta de conveniência, serviços deficientes e quebras de confiança. Mais do que nunca, ele é o centro de tudo, das decisões, estratégias e inovações. O consumidor é digital sem deixar de ser humano, inovador sem abrir mão do que confia, que critica sem consumir, reclama sem ser cliente, questiona sem conhecer. Tudo porque esse consumidor quer exercer um controle maior sobre suas escolhas e decisões. Falamos de um consumidor que quer respeito absoluto pela sua identidade – ativista, consciente, independentemente de gênero, credo, idade, renda. Um consumidor com o poder de disseminar ideias, que rapidamente se organiza em redes orquestradas capazes de mobilizar corações, mentes e manifestações a favor ou contra ideias, campanhas, marcas, empresas. Ele cria tendências e as descarta na velocidade de um clique. Acompanhar cada passo dessa evolução do consumidor é um compromisso da Consumidor Moderno, agora cada vez mais uma plataforma de distribuição de insights e conteúdo multiformato, com o melhor, mais completo, sólido e original conhecimento sobre comportamento do consumidor e inteligência relacional, ajudando executivos de empresas que tenham a missão de fazer a gestão eficaz de comunidades de clientes a tomar melhores decisões estratégicas. A agenda ESG, por exemplo, que finalmente ganha relevo na agenda corporativa, ocupa nossa linha editorial há muito tempo, porque já a entendíamos como exigência do consumidor no limiar da era digital. Consumidor Moderno também procura mostrar o que há de mais avançado em tecnologias, plataformas, aplicações, processos e metodologias para operacionalizar a gestão de clientes de modo eficaz, conectando executivos e lideranças em um ecossistema virtuoso de geração de negócios e oportunidades.

Concepção da capa:
Camila Nascimento


Publisher
Roberto Meir

Diretor-executivo de Conhecimento
Jacques Meir
[email protected]

Diretora-executiva
Lucimara Fiorin
[email protected]

COMERCIAL E PUBLICIDADE
Gerentes-comerciais
Andréia Gonçalves
[email protected]

Daniela Calvo
[email protected]

Érica Issa
[email protected]

NÚCLEO DE CONTEÚDO
Head
Melissa Lulio
[email protected]

Editora-assistente
Larissa Sant’Ana
[email protected]

Repórteres
Bianca Alvarenga
Cecília Delgado
Jade Lourenção
Jéssica Chalegra
Júlia Fregonese
Lara Madeira
Marcelo Brandão

Head de Arte
Camila Nascimento
[email protected]

Designer
Melissa D’Amelio

Revisão
Elani Cardoso

MARKETING
Coordenadora
Mariana Santinelli

TECNOLOGIA
Gerente

Ricardo Domingues

CX BRAIN
Data Analyst
Camila Cirilo
[email protected]


CONSUMIDOR MODERNO
é uma publicação da Padrão Editorial Eireli.
www.gpadrao.com.br
Rua Ceará, 62 – Higienópolis
Brasil – São Paulo – SP – 01234-010
Telefone: +55 (11) 3125-2244
A editora não se responsabiliza pelos conceitos emitidos nos artigos ou nas matérias
assinadas. A reprodução do conteúdo editorial desta revista só será permitida com
autorização da Editora ou com citação da
fonte. Todos os direitos reservados e protegidos pelas leis do copyright, sendo vedada a
reprodução no todo ou em parte dos textos
publicados nesta revista, salvo expresso
consentimento dos seus editores.
Padrão Editorial Eireli.
Consumidor Moderno ISSN 1413-1226

NA INTERNET
Acesse diariamente o portal
www.consumidormoderno.com.br
e tenha acesso a um conteúdo multiformato
sempre original, instigante e provocador
sobre todos os assuntos relativos ao
comportamento do consumidor e à inteligência
relacional, incluindo tendências, experiência,
jornada do cliente, tecnologias, defesa do
consumidor, nova consciência, gestão e inovação.

PUBLICIDADE
Anuncie na Consumidor Moderno e tenha
o melhor retorno de leitores qualificados e
informados do Brasil.

PARA INFORMAÇÕES SOBRE ORÇAMENTOS:
[email protected]

SUMÁRIO – Edição 282

As relações de consumo acompanham mudanças intensas e contínuas na sociedade e no mercado. Vivemos a era do pós-consumidor, mais exigente e consciente e, sobretudo, mais impaciente, mais insatisfeito e mais intolerante com serviços ruins, falta de conveniência, serviços deficientes e quebras de confiança. Mais do que nunca, ele é o centro de tudo, das decisões, estratégias e inovações. O consumidor é digital sem deixar de ser humano, inovador sem abrir mão do que confia, que critica sem consumir, reclama sem ser cliente, questiona sem conhecer. Tudo porque esse consumidor quer exercer um controle maior sobre suas escolhas e decisões. Falamos de um consumidor que quer respeito absoluto pela sua identidade – ativista, consciente, independentemente de gênero, credo, idade, renda. Um consumidor com o poder de disseminar ideias, que rapidamente se organiza em redes orquestradas capazes de mobilizar corações, mentes e manifestações a favor ou contra ideias, campanhas, marcas, empresas. Ele cria tendências e as descarta na velocidade de um clique. Acompanhar cada passo dessa evolução do consumidor é um compromisso da Consumidor Moderno, agora cada vez mais uma plataforma de distribuição de insights e conteúdo multiformato, com o melhor, mais completo, sólido e original conhecimento sobre comportamento do consumidor e inteligência relacional, ajudando executivos de empresas que tenham a missão de fazer a gestão eficaz de comunidades de clientes a tomar melhores decisões estratégicas. A agenda ESG, por exemplo, que finalmente ganha relevo na agenda corporativa, ocupa nossa linha editorial há muito tempo, porque já a entendíamos como exigência do consumidor no limiar da era digital. Consumidor Moderno também procura mostrar o que há de mais avançado em tecnologias, plataformas, aplicações, processos e metodologias para operacionalizar a gestão de clientes de modo eficaz, conectando executivos e lideranças em um ecossistema virtuoso de geração de negócios e oportunidades.

Concepção da capa:
Camila Nascimento


Publisher
Roberto Meir

Diretor-executivo de Conhecimento
Jacques Meir
[email protected]

Diretora-executiva
Lucimara Fiorin
[email protected]

COMERCIAL E PUBLICIDADE
Gerentes-comerciais
Andréia Gonçalves
[email protected]

Daniela Calvo
[email protected]

Érica Issa
[email protected]

NÚCLEO DE CONTEÚDO
Head
Melissa Lulio
[email protected]

Editora-assistente
Larissa Sant’Ana
[email protected]

Repórteres
Bianca Alvarenga
Cecília Delgado
Jade Lourenção
Jéssica Chalegra
Júlia Fregonese
Lara Madeira
Marcelo Brandão

Head de Arte
Camila Nascimento
[email protected]

Designer
Melissa D’Amelio

Revisão
Elani Cardoso

MARKETING
Coordenadora
Mariana Santinelli

TECNOLOGIA
Gerente

Ricardo Domingues

CX BRAIN
Data Analyst
Camila Cirilo
[email protected]


CONSUMIDOR MODERNO
é uma publicação da Padrão Editorial Eireli.
www.gpadrao.com.br
Rua Ceará, 62 – Higienópolis
Brasil – São Paulo – SP – 01234-010
Telefone: +55 (11) 3125-2244
A editora não se responsabiliza pelos conceitos emitidos nos artigos ou nas matérias
assinadas. A reprodução do conteúdo editorial desta revista só será permitida com
autorização da Editora ou com citação da
fonte. Todos os direitos reservados e protegidos pelas leis do copyright, sendo vedada a
reprodução no todo ou em parte dos textos
publicados nesta revista, salvo expresso
consentimento dos seus editores.
Padrão Editorial Eireli.
Consumidor Moderno ISSN 1413-1226

NA INTERNET
Acesse diariamente o portal
www.consumidormoderno.com.br
e tenha acesso a um conteúdo multiformato
sempre original, instigante e provocador
sobre todos os assuntos relativos ao
comportamento do consumidor e à inteligência
relacional, incluindo tendências, experiência,
jornada do cliente, tecnologias, defesa do
consumidor, nova consciência, gestão e inovação.

PUBLICIDADE
Anuncie na Consumidor Moderno e tenha
o melhor retorno de leitores qualificados e
informados do Brasil.

PARA INFORMAÇÕES SOBRE ORÇAMENTOS:
[email protected]